SEM NEGACIONISMO

Calheiros se recusa a ouvir defensores do tratamento precoce: ‘Basta de negacionismo’

Senador protestou contra Bolsonaro, que voltou a defender tratamento precoce e questionou as vacinas

Marcos Oliveira/Agência Senado
Marcos Oliveira/Agência Senado
Na abertura da sessão, Renan Calheiros se indignou com as falas de Bolsonaro, e disse que o presidente mente e induz os brasileiros à morte

São Paulo – A CPI da Covid recebeu de maneira tímida, nesta sexta-feira (18), médicos defensores do tratamento precoce contra covid-19, com apenas a presença de senadores bolsonaristas. O relator da comissão, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), criticou as declarações de Jair Bolsonaro, dadas ontem (17) sobre imunidade de rebanho, e comunicou que não iria questionar os convidados da sessão sobre o tratamento precoce.

Os médicos Ricardo Zimerman e Francisco Eduardo Cardoso Alves, defensores do tratamento precoce para a covid-19, foram convidados para a CPI por meio de requerimentos dos senadores Luis Carlos Heinze (PP-RS) e Marcos Rogério (DEM-RO). Já Alves teve convite solicitado por Jorginho Mello (PL-SC) e Ciro Nogueira (PP-PI) – todos da ala governista da CPI.

Na abertura da sessão, Renan Calheiros se indignou com as falas de Bolsonaro, que voltou a defender a imunidade de rebanho e disse que a infecção ao vírus “é mais eficaz que a vacina”. O senador disse que o presidente mente e induz os brasileiros à morte.

Em seguida, anunciou que não faria perguntas, em forma de protesto, e deixou a sessão. “Diante do escárnio, me recuso a fazer qualquer pergunta aos depoentes. A CPI está aqui para investigar práticas criminosas, como a do presidente da República. Vamos chegar a meio milhão de mortes e continuamos ouvindo inverdades que seguem impunes. Precisamos dar um basta no negacionismo”, criticou.

O senador Marcos Rogério pediu ao presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), para que algum outro senador fizesse as perguntas no lugar do relator. O pedido foi negado. O grupo de senadores de oposição e os que declaram independência em relação ao governo de Jair Bolsonaro também não participam da sessão. Segundo eles, o objetivo é não “dar palco” para divulgações científicas falsas.

O cientista Atila Iamarino comentou o começo do depoimento dos médicos defensores do tratamento precoce. Nas redes sociais, ele diz que os depoentes promovem um tratamento que não funciona, aproveitando-se do medo das pessoas. “Liguei na CPI e a pressão já subiu de ouvir tanta besteira”, tuitou.

Investigação

Sobre as declarações de Bolsonaro, a CPI deve votar na próxima terça-feira (22) a convocação de representantes do Facebook e do YouTube. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) criticou as lives em que Jair Bolsonaro “dissemina notícias sem lastro na ciência”. “Por muito menos, Twitter e Facebook baniram Donald Trump”, disse. “O presidente tem o direito de dizer o que quiser, mas não tem o direito de atentar contra a vida dos brasileiros.”

Renan Calheiros também anunciou, em entrevista coletiva, a lista de investigados pela CPI da Covid. Entre os nomes estão: o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga; o ex-ministro da pasta Eduardo Pazuello; o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Elcio Franco; o ex-assessor especial Arthur Weintraub; o empresário Carlos Wizard; o ex-ministro de Relações Exteriores Ernesto Araújo; o ex-secretário de Comunicação Social Fábio Wangarten; a coordenadora do Programa Nacional de Imunização Franciele Fantinato; o ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campelo; os médicos Mayra Pinheiro; Nise Yamaguchi; Paulo Zanotto; e Luciano Dias Azevedo.

“Queiroga disse que abriria um decreto para tirar a obrigatoriedade das máscaras. Nós acessamos também documentos, ainda em abril, cobrando da Organização Mundial da Saúde (OMS) mais rapidez no fornecimento de vacinas. A resposta foi de que o Brasil não teve agilidade quando as doses estavam disponíveis e ainda só comprou 10% das vacinas ofertadas. Diante disso, não tem como não colocá-lo na investigação”, explicou.


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