CPI DA COVID

‘Machões da internet ficam caladinhos na CPI’, diz Calheiros sobre silêncio de Wizard

Suspeito de integrar o ‘gabinete paralelo’, empresário usou o direito de ficar calado durante sessão da CPI

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Wizard também é investigado sobre seu envolvimento na compra de vacinas, em especial a da CanSino, que tem contrato sob suspeita

São Paulo – O empresário Carlos Wizard Martins foi criticado por se recusar a responder os questionamentos dos senadores, durante a CPI da Covid desta quarta-feira (30), utilizando o habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso para ficar em silêncio. “Os machões da internet ficam caladinhos na CPI”, ironizou o senador e relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL).

Suspeito de integrar o “gabinete paralelo” de aconselhamento ao presidente Bolsonaro no enfrentamento à pandemia, Wizard não respondeu as questões do relator da CPI da Covid. A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) também fez perguntas, mas não recebeu respostas.

Ela usou seu tempo então para fazer críticas à postura do empresário, que defendeu o uso de medicamentos ineficazes contra a covid-19, além de fazer lobby pela aquisição de vacinas pelo setor privado. “O senhor começou falando de Jesus Cristo, mas a essência dele era baseada no amor aos pobres. Nos dias atuais, se você está diante de uma pandemia e tem acesso à vacina, é preciso levá-la aos mais pobres. Porém, o senhor queria levar vacina ao setor empresarial, ou seja, algo totalmente contrário ao que você pregou aqui”, criticou a senadora.

Wizard também é investigado pelo seu envolvimento em supostas negociações de vacinas, em especial a da CanSino. O empresário teria agido para facilitar a compra do imunizante, em um esquema similar ao da Covaxin, com um intermediário e preço elevado.

“A gente tem informação da sua relação com a CanSino, com Ricardo Barros, e vamos investigar o esquema de corrupção de propina na compra de vacinas. O senhor pode ter certeza que isso tudo é contraditório com a religião que prega. Não foi apenas negacionismo, foi corrupção mesmo. E cada vida custou US$ 1”, destacou a senadora Eliziane, antes de encerrar sua participação.

Silêncio de Wizard na CPI

Antes de começar a oitiva na CPI da Covid, Carlos Wizard declarou que “por orientação dos advogados, reservava o direito de permanecer em silêncio”. O senador Humberto Costa (PT-PE) também fez perguntas, que novamente ficaram sem respostas.

O senador petista afirma que o empresário é “peça-chave” das investigações da comissão. “Você foi defensor de medicamentos sem eficácia contra a covid-19, utilizados para sabotar as ações do isolamento social. Colocou a economia acima da saúde, negociava aquisição de insumos, participou de reuniões no Ministério da Saúde, sem um cargo lá, e foi mentor da ideia de maquiar os dados da covid-19. Ou seja, é peça-chave dessa CPI”, apontou.

Nas redes sociais, o sentimento foi de revolta por parte de parlamentares e figuras públicas. O deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) afirmou que a recusa em se defender, por parte do empresário, constata culpa. “O silêncio de Carlos Wizard é a confissão dos seus crimes. Bolsonaristas como Carlos Wizard produziram tantas provas dos crimes que cometeram que mesmo em silêncio a culpa pelo extermínio grita”, tuitou.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE), que faz parte da CPI, chamou o depoente de “covarde”, em suas redes sociais. “Carlos Wizard, mesmo se reservando ao direito de ficar em silêncio, é exposto a uma verdade vergonhosa: faz críticas ao Senado por lutar por vacina para o povo, enquanto autuou no gabinete antivacinas e fez suposto lobby na compra da CanSino. E ainda se diz um homem de Deus. Covarde”, criticou.

Já o pesquisador Wilson Gomes, professor de Comunicação na Universidade Federal da Bahia (UFBA), também questionou a postura de Wizard na CPI da Covid. “Por causa de gente como Wizard, que agora se reserva o direito de permanecer em silêncio, 500 mil famílias brasileiras foram obrigadas a chorar em silêncio. O bolsonarismo é sobretudo um regime de canalhas”, afirmou em seu Twitter.