CPI da Covid

Luana Araújo defende foco na atenção primária, em vez de hospitais e UTIs

Para a infectologista, profissionais da saúde primária deveriam ter sido utilizados de forma “mais contundente” para testar e orientar a população durante a pandemia

Jefferson Rudy/Agência Senado
Jefferson Rudy/Agência Senado
Para a médica, focar somente na ampliação de leitos hospitalares é "estratégia atrasada"

São Paulo – A médica infectologista Luana Araújo afirmou à CPI da Covid nesta quarta-feira (2) que é preciso “mudar o eixo” do combate à pandemia para a atenção primária em saúde. De acordo com a especialista, quando os esforços se concentram na ampliação de leitos hospitalares e de UTIs, “já estamos atrasados” em relação à evolução da doença. Ela frisou que, o tratamento farmacológico para a doença “até esse momento, é inexistente”.

“O que é preciso fazer é mudar o eixo de resposta para a atenção primária. Essa estratégia serve não apenas para um diagnóstico precoce, mas principalmente para a educação, o aconselhamento e acompanhamento das pessoas”, frisou Luana.

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A infectologista teve sua nomeação barrada para o cargo de secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, que continua vago, por sua postura “alinhada à ciência”. Ela foi atacada, nas redes sociais, por ter combatido o chamado “tratamento precoce“, e por defender medidas não farmacológicas, como o uso de máscaras e distanciamento social, no enfrentamento à pandemia.

À Comissão, Luana afirmou que a pandemia é também uma “crise de confiança”. Nesse sentido, os médicos e enfermeiros do Programa Saúde da Família (PSF) e os agentes comunitários de saúde deveriam ter sido utilizados para informar a população. Ela enalteceu o SUS como “uma das maiores ferramentas de saúde pública” do mundo.

Copa América

Luana Araújo também afirmou que não é o “momento oportuno” para a realização da Copa América no Brasil. Mesmo diante da promessa do cumprimento dos protocolos sanitários, ela classificou a opção pela realização do evento como “um risco desnecessário”. “O uso de protocolos rígidos ameniza riscos, mas não os anula. Quando a gente toma uma decisão como esta, precisa pesar os prós e contra desse tipo de situação. Honestamente, de onde me sento neste momento, não acho que é um momento oportuno para este tipo de evento”, disse ela.

Frustração

A infectologista disse que não saberia dizer se foi rejeitada por conta dos ataques virtuais de que virou alvo. Nem soube relatar a origem ou a que grupos políticos pertenciam os perpetradores desses ataques. No entanto, afirmou que as “ameaças” dirigidas a ela se davam sempre em função da sua posição contrária ao que chamou de “pseudo-tratamento precoce” e em favor das medidas não farmacológicas.

Ela alegou se sentir “frustrada” por não ter podido contribuir com o seu conhecimento. Disse também que não poderia garantir que gozaria da “liberdade e autonomia” necessárias para exercer a sua função. Nesse sentido, diante do desgaste vivenciado nos últimos dias, Luana afirmou que “provavelmente” não aceitaria o integrar o governo se o convite lhe fosse feito hoje.

Mensagem única

A especialista também destacou que a participação popular foi “fundamental” em todos os países que deram respostas “decentes” à pandemia. Ainda assim, ela evitou criticar diretamente as posturas adotadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Mas cobrou a necessidade de haver uma “mensagem única”, com “comunicação clara”, para orientar a população.

“Se cada um diz uma coisa, em que eu acredito?”, indagou a especialista. “Se estou desesperada, se não sei nada sobre isso e acho que vou morrer, vou tomar qualquer coisa que me digam que vai funcionar. E não necessariamente esta é a melhor saída. Estratégias claras de comunicação, com mensagem única, baseadas em ciência, são fundamentais”, declarou.


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