Empáfia

Participação de Élcio Franco na CPI da Covid: ‘Não pode mentir. Mas se quiser, pode’

Depoimento do ex-secretário-executivo do Minstério da Saúde de Bolsonaro na CPI da Covid foi criticado por inconsistências e mentiras

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Franco afirmou à CPI que os gastos do governo com o medicamento ineficaz não teriam relação direta com o coronavírus, e sim, com tratamento de malária

São Paulo – O ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco foi o depoente do dia na CPI da Covid. Como outros bolsonaristas que foram ouvidos no Senado, Franco buscou a defesa do presidente a partir de falas inconsistentes e desconectadas com a realidade. Entre os temas abordados, novamente a defesa da cloroquina, pelo Planalto, contra a covid-19. O ex-auxiliar de Eduardo Pazuello afirmou à CPI que os gastos do governo com o medicamento ineficaz não teriam relação direta com o coronavírus, e sim, com tratamento de malária.

Entretanto, a fala do ex-secretário soou como escárnio para os que acompanhavam a CPI. O fato repecurtiu nas redes sociais. O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), que é médico infectologista e foi ministro da Saúde, ironizou: “Alguém tem fácil aí a imagem do meme do dia: ‘não pode mentir na CPI, mas se quiser pode'”. Padilha reforçou que Franco adota a mesma postura da cúpula bolsonarista de aderir ao negacionismo científico.

“Élcio Franco, braço direito de Pazuello, é mais um adorador de remédios sem eficácia comprovada, do negacionismo e da política de morte bolsonarista. Os depoimentos da trupe do governo de Bolsonaro são apenas uma amostra do quão mentiroso é o próprio presidente”, disse o parlamentar. Defensor do tratamento precoce, Élcio Franco foi contaminado com a covid-19, fez uso de cloroquina e ivermectina e, mesmo assim, foi internado com 50% do pulmão comprometido.

Vacinas

Outro ponto de destaque da CPI foi a não resposta do governo à Pfizer, que ofereceu vacinas ao Brasil ainda em 2020, inclusive, por preço inferior ao contratado meses depois. O fato novo veio a partir do vice-presidente da CPI, sanador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). “Em investigação na CPI da Covid, descobrimos que a Pfizer ficou sem resposta ou manifestação de interesse do Governo pelas vacinas pelo menos 81 vezes! Não restam dúvidas da omissão do Governo na aquisição de vacinas para o Brasil!”, relatou.

A revelação de Randolfe caiu como bomba entre opositores do governo Bolsonaro. “CPI da Covid revela que a Pfizer ficou sem respostas do governo Bolsonaro pelo menos 81 vezes! Impeachment é pouco”, disse o deputado federal Helder Salomão (PT-ES). “A cada vez que a CPI investiga, mais e-mails da Pfizer ignorados pelo governo surgem. O senador Randolfe anuncia agora pelo menos 81. Já não restam dúvidas sobre quem são os culpados, o que a CPI precisa acelerar agora é a responsabilização”, completou a deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP).

Mais repercussão

A sociedade civil reagiu ao depoimento de Franco na CPI. O jornalista Fabio Pannunzio fez uma crítica aos militares que compõem o governo, como Franco. “Vendo a participação dos militares na CPI do Genocídio, fico tentado a perguntar o que eles entendem por honra e dignidade. Como podem mentir de maneira tão descarada? Não têm vergonha das mulheres, dos filhos, dos colegas de farda?”

O também jornalista Kennedy Alencar parafraseou expressão usada pelo depoente. “Depoimento de Elcio Franco na CPI prova que governo Bolsonaro é realmente um cemitério de cérebros. O despreparo para ocupar o segundo posto do Ministério da Saúde é óbvio ululante. Despreparo misturado com empáfia.”

Cloroquina

A fala de Franco de que a cloroquina adquirida pelo governo para tratar de doenças como malária e lúpus, que realmente carecem do medicamento, vai de encontro à realidade. “A cloroquina será usada como profilático para ajudar a defender enfermeiros, médicos e profissionais de saúde do Brasil contra o vírus. Ela também será utilizada no tratamento de brasileiros infectados”, como afirma comunicado do governo datado do dia 1 de junho de 2020.


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