"Não é ministro"

CPI da Covid: Queiroga insiste em reafirmar autonomia que não tem

“Não compete a mim julgar atos do presidente”, diz ministro da Saúde sobre negacionismo de Bolsonaro. “Compete, ministro. Ou então o senhor não é o ministro”, afirma Tasso Jereissati

Fotos: Jefferson Rudy/Ag. Senado - Arte RBA: Leandro Siman
Fotos: Jefferson Rudy/Ag. Senado - Arte RBA: Leandro Siman
Eliziane Gama enfatizou "efeito cascata" da Copa América e Tasso, a autonomia que Bolsonaro nega com seus atos

São Paulo – Na continuidade do seu segundo depoimento à CPI da Covid, na tarde desta terça-feira (8), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, foi questionado sobre a autonomia como ministro da Saúde no governo Jair Bolsonaro e, mais uma vez, confrontado sobre os riscos da realização da Copa América num momento de recrudescimento da pandemia. Mas a “pouca crença” na propalada autonomia do ministério – destacou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) – se relaciona à questão do comportamento do presidente da República em relação ao distanciamento social e o uso de máscara. “Não é possível que o ministro da Saúde dê uma diretriz e o presidente da República, que desorganiza e boicota suas orientações, no dia seguinte às suas recomendações sobre distanciamento e uso de máscara faz o contrário. Ele estimula e provoca o aumento de casos e, por consequência, de óbitos”, afirmou o tucano.



Queiroga afirmou já ter respondido sobre esses pontos anteriormente. “A minha posição é clara”, disse. Mencionou que o trabalho do governo federal tem priorizado três pilares fundamentais: vacinação, medidas não farmacológicas e programa de testagem. Segundo o ministro, a pasta pretende “impulsionar” o terceiro pilar, mas apenas no segundo semestre.

Cadê a indignação?

“O senhor é muito inteligente e consegue sair pela tangente”, devolveu Tasso. “Mas acha que uma campanha tem efeito quando (o presidente Jair Bolsonaro) faz o contrário diante de milhões de brasileiros?”, questionou. “É um boicote à sua campanha. Não é uma festa num bairro de São Paulo, de Fortaleza, que tem provocado aglomeração, à qual o senhor é contra. É o presidente da República, seu chefe. Queria que mostrasse um pouco de indignação com isso”, acrescentou.

“Senador, eu faço a minha parte. Não compete a mim julgar atos do presidente”, retrucou Queiroga. “Compete, ministro. Ou então o senhor não é o ministro da saúde”, insistiu o parlamentar. Como havia dito para justificar o cancelamento pelo Planalto da nomeação da infectologista Luana Araújo como secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, demitida dez dias depois de anunciada, Queiroga repetiu que é o chefe da pasta “de um regime presidencialista”. “Não me compete fazer juízo de valor acerca dos atos do presidente”. O tucano respondeu: “A omissão é às vezes mais grave do que uma ação errada”.

Copa América na terceira onda

Por sua vez, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) insistiu no questionamento sobre a transferência da Copa América para o Brasil, tema sobre o qual o ministro havia sido questionado pela manhã e respondeu que “não existem provas de que essa prática aumenta o nível de contaminação dos atletas”. Mas a senadora maranhense aprofundou a questão. Ela destacou a “normalização” da realização de uma competição esportiva recusada por Argentina e Colômbia, num momento de retomada preocupante da ocupação de leitos de UTI no sistema de saúde. Também alertou para o que chamou de “efeito cascata” provocado por um evento como um torneio continental de futebol.

“O país se mobiliza nos bares, nos bairros, nas ruas, nas cidades. Em aglomerações, ministro. Não estamos falando apenas de ‘600 pessoas’ de uma delegação. O senhor considera normal a realização da Copa América num momento em que nem saímos de uma segunda onda e estamos indo para a terceira?”, questionou Eliziane. Queiroga alegou que “as competições estão acontecendo no Brasil desde o ano passado”. Repetiu o argumento negacionista de que estão sendo jogados Campeonato Brasileiro, a Libertadores e as Eliminatórias da Copa. “O risco dos jogadores e das delegações se contaminarem é mínimo. Portanto não há o óbice para a realização dessas partidas”, acrescentou.

“Ou seja, o senhor não considera o efeito cascata…”, atalhou a senadora. Segundo Queiroga, “não há público. As pessoas assistem em casa, estão frequentando bares e restaurantes dentro de normas sanitárias”. Ele insistiu que “não há elemento de comprovação científica” de que os casos de covid-19 vão aumentar por conta da competição.

“O senhor acha normal e assume a responsabilidade? Daqui a dois meses, quando houver desdobramentos, o senhor  vai fazer mea culpa se tivermos o aumento dos casos por conta do período da Copa América?”, quis saber a senadora. “Todos nós podemos rever nossos pontos de vista para um lado ou para outro. Hoje eu acho que não há um risco adicional. Não quer dizer que ninguém vai se contaminar, porque todos os dias milhares de pessoas se contaminam com covid”, defendeu-se Marcelo Queiroga, ante a CPI da Covid.


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