Aliado ao vírus

CPI da Covid: governo Bolsonaro foi omisso na crise do Amazonas. ‘Não mandou oxigênio, enviou cloroquina’

Eliziane Gama lembra que 120 mil comprimidos de cloroquina foram prontamente enviados ao Amazonas

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Marcellus Campêlo afirmou que foi solicitado apoio de logística à Unicef para receber o oxigênio da Venezuela. Porém, a entidade pediu que ao Ministério da Saúde realizar a intermediação, que não respondeu ao pedido

São Paulo – Os senadores da CPI da Covid criticaram, durante oitiva do ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo na manhã desta terça-feira (15), a falta de suporte e de colaboração do governo federal na crise de oxigênio hospitalar no Amazonas, em janeiro deste ano. Campêlo afirmou que recebeu pouco apoio do Ministério da Saúde (MS) para o transporte de cilindros do insumo. Por outro lado, disse que o mesmo ministério foi rápido no envio de hidroxicloroquina ao estado. O ex-secretário relatou que foi solicitado ao governo federal apoio logístico à Unicef para o envio do oxigênio fornecido pela Venezuela. Porém, o MS não respondeu ao pedido.

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) lembrou que a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como Capitão Cloroquina, enviou 120 mil comprimidos de cloroquina ao Amazonas. Campêlo ainda tentou minimizar o episódio, alegando que só faltou oxigênio em Manaus nos dias 14 e 15 de janeiro e que o estoque do medicamento, que poderia “também” ser usado contra a covid estaria “zerado” na rede pública. Eliziane criticou a afirmação e acusou Campêlo de tentar infantilizar a comissão. “As imagens mostram as pessoas levando oxigênio para os hospitais e o senhor diz que isso não aconteceu, que só faltou oxigênio em dois dias. Dá uma angústia revoltante ouvir isso”, afirmou.

A parlamentar lembrou que o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC) é aliado de Jair Bolsonaro, o que poderia ter levado a uma parceria positiva, o que também não ocorreu. “Você vem à CPI da Covid dizer que não faltou oxigênio. O governador e o presidente são aliados políticos, mas não juntaram forças para resolver o problema. Enquanto isso, a apresentação do TrateCov e a entrega de cloroquina (foram) feitas num passe de mágica, enquanto o oxigênio faltou e houve dificuldade na ajuda para transporte internacional. É criminoso e desumano o que ouvimos nessa comissão.”

‘Ideias estapafúrdias’

Em sua vez de questionar Marcellus Campêlo, o senador Humberto Costa (PT-PE) quis saber quem organizou a resistência às medidas de isolamento social decretadas em Manaus e lembrou que políticos aliados de Bolsonaro, como a deputada Bia Kicis (PSL-SP) e o deputado Osmar Terra (MDB-RS) endossaram o boicote às restrições. Marcellus diz não ter nome de quem pressionou, mas a ação veio de comerciantes manauraras. Costa lembrou que Jair Bolsonaro chamou de “absurdo” o lockdown em Manaus e acrescentou que a pressão maior foi do presidente da República “Ele é diretamente responsável por essas mortes em Manaus. Ele defendeu ideias estapafúrdias”, criticou.

O senador finalizou classificando a gestão da pandemia em Manaus como um “experimento do governo federal”. “Eles acreditavam que a cloroquina e o tratamento precoce iriam reduzir os casos, por isso não ajudaram nos esforços necessários do estado. O presidente da República e seus apoiadores se empenharam para derrubar as medidas sanitárias de Saúde. Enquanto Manaus pediu oxigênio, o governo federal mandou cloroquina”, concluiu.

Falta de oxigênio

O ex-secretário Marcellus Campêlo desmentiu o ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello, e afirmou que ligou para o então ministro no dia 7 de janeiro para avisar do iminente desabastecimento de oxigênio nos hospitais do estado. No mês passado, Pazuello declarou à Comissão que soube da falta do insumo na noite de 10 de janeiro.

O senador e ex-governador do Amazonas Eduardo Braga (MDB-AM) apontou outra mentira do general à CPI da Covid e lembrou que o oxigênio da Venezuela chegou a Manus dia 20 de janeiro. E que outros cilindros foram entregues quatro dias depois. “Pazuello e Élcio Franco disseram que foram só dois ou três dias para chegar o oxigênio, mas é mentira. Eles sabiam do problema relacionado ao oxigênio”, acrescentou o senador.

Braga criticou também a falta de ações do governador amazonense, aliado de Bolsonaro, para frear a crise. O parlamentar ainda apresentou dois documentos da empresa White Martins. Em 16 de julho de 2020, foi avisado pela empresa que não seria possível suportar a demanda futura de oxigênio. Depois, o senador apresentou outro documento, enviado em setembro de 2020, em que a White Martins confirmava a incapacidade de suprir a alta demanda extra e que decidira atender somente o que havia sido acordado em contrato.


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