Quem decide?

CPI da Covid questiona Queiroga: como combater a pandemia com uma equipe negacionista no Ministério?

Alessandro Vieira lembra que quatro postos estratégicos do ministério da Saúde são ocupados por secretários que “defendem tratamento precoce e desvalorizam as vacinas”, entre os quais Mayra Pinheiro

Jefferson Rudy/Ag. Senado
Jefferson Rudy/Ag. Senado

São Paulo – Na parte final da sessão da CPI da Covid nesta terça-feira (8), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga foi confrontado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que o questionou sobre o perfil negacionista de alguns secretários em postos importantes da pasta. O parlamentar citou quatro deles, todos defensores do tratamento precoce à base do chamado “kit covid”. Foram lembrados por Vieira: Mayra Pinheiro (Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde),Hélio Angotti Neto (Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos), Raphael Câmara Medeiros (Atenção Primária) e Arnaldo Medeiros (Vigilância em Saúde Vigilância em Saúde). “Ninguém duvida que o senhor é bem intencionado. Mas esses quatro profissionais, ministro, são contrários à política que o senhor defende. Eles defendem tratamento precoce, desvalorizam vacinas”, disse o senador.

“O senhor imagina que é viável tocar uma política pública de alta complexidade com uma equipe que defende uma política diversa da que defende vossa excelência?”, continuou o parlamentar. “Na nossa gestão não há, na minha pasta, nenhuma decisão deles que contrarie o que eu determino”, respondeu Queiroga, que reforçou, sem convencer: “sempre que houver necessidade de fazer modificações na equipe eu farei”.

Momento de ironia

Vieira então ironizou a senadora bolsonarista Soraya Thronicke (PSL/MS), que havia citado Jesus Cristo ao se manifestar antes dele. “É importante registrar que, não tendo o conhecimento bíblico da senadora Soraya, vou recorrer a um adágio popular: de boas intenções o inferno está cheio”.

Voltando ao Ministério da Saúde, Alessandro Vieira afirmou sentir estranheza ante uma estrutura formada por “um presidente que não acredita na ciência, um ministro técnico que acredita na ciência e se esforça pela saúde dos brasileiros e, abaixo do ministro, um grupo que se identifica e se conecta diretamente com o presidente da República, ultrapassando a autoridade em prol de uma política que literalmente impediu que salvássemos vidas”.

STF e Copa América

Antes da fala do senador por Sergipe, o relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), interrompeu a sessão por instantes para anunciar que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidirá na próxima quinta-feira (8) – em sessão do plenário virtual – sobre a realização ou não da Copa América no Brasil. “O Supremo acaba de marcar uma sessão da Corte para decidir sobre a Copa América. Espero que o senador Flávio Bolsonaro não diga novamente que o Supremo é do presidente Lula. E que o general Mourão não queira levar os ministros do Supremo para Cuiabá”, ironizou também Renan.

Durante a semana, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, se manifestou sobre a crise na Seleção, atacando o técnico Tite. “O Cuiabá está precisando de um técnico, aí, não tá? Então leva lá, sai, pede o boné”, desafiou o general. Para Renan, “o governo continua como aquele soldado que marcha com o pé trocado e acha que a tropa é que está marchando diferente”, disse.

O julgamento do STF responde a um pedido de liminar da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM) pediu uma liminar para suspender a realização do torneio (na ADPF 849), por “risco de aumento de casos de contaminação e de mortes pela Covid-19”, e ao mandado de (MS 37933) do Partido Socialista Brasileiro (PSB) assinado pelo deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG). Para o parlamentar, a realização da competição viola os direitos fundamentais à vida e à saúde.

CPI amanhã

Nesta quarta (9), a CPI da Covid recebe o ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, da equipe do ex-ministro Eduardo Pazuello. Franco era considerado o braço direito de Pazuello e responsável pelas negociações das vacinas. Vai ter de explicar os motivos do descaso do governo, graças ao qual o Brasil deixou de ter 60 milhões de doses ainda em 2020.  Em janeiro, ele chegou a dizer, à rádio CBN, que era “uma situação bem semelhante” o uso de medicamentos como a cloroquina e os imunizantes, porque “a vacina também não tem bula neste momento”.


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