'Fora Bolsonaro'

Professores e alunos de Jornalismo da PUC-SP lançam campanha por impeachment de Bolsonaro

“Pergunte ao Lira” convida jornalistas que atuam no Congresso a questionar o Presidente da Câmara sobre o que falta para o acolhimento de um dos mais de 120 pedidos de afastamento já protocolados

Marcelo Camargo/EBC
Marcelo Camargo/EBC
"Quantas perguntas mais, pedidos mais, o presidente da Câmara, Arthur Lira, vai precisar receber?. Espero que de fato ele se solidarize com a população que é quem ele está representando ali na Câmara dos Deputados", cobra professor da PUC-SP

São Paulo – Professores e estudantes do curso de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) fazem campanha para pressionar o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), a abrir o processo de impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Lançado no último domingo (20), o movimento “Pergunte ao Lira” convida profissionais da imprensa que atuam no Congresso Nacional a questionar o deputado sobre o que falta para o acolhimento de um entre os mais de 120 pedidos de afastamento já protocolados no Legislativo. 

A comunidade universitária aponta responsabilidade de Bolsonaro pelas mais de 504 mil vidas perdidas em decorrência da covid-19 . Para alunos e professores “há uma escalada de morte, ódio e descaso no país” estimulada pela “omissão” do governo federal. Em nota, o movimento afirma que o presidente da Câmara “tem o dever constitucional de responder pelo adiamento do início do processo que pode livrar o país da mais nefasta administração já registrada e, assim, impedir a morte de outras centenas de milhares de brasileiros e brasileiras”. “Até quantas mortes o deputado Lira vai esperar para atender o clamor de uma nação?”, questionam. 

A campanha também é um movimento de reação diante do luto dos alunos e professores pela morte do radialista e professor da PUC-SP e do Centro Universitário Belas Artes, André Naveiro Russo, de 50 anos. Depois de 10 dias internado por complicações da doença do novo coronavírus, Russo veio a óbito no domingo (20). Dedicado à educação e à formação de seus alunos, o jornalista era adorado em seu meio e por colegas de profissão que lamentaram sua morte. 

Lira e o impeachment

Nas palavras do fotógrafo e professor de Jornalismo da PUC, atual diretor da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes (Faficla) da instituição, Cristiano Burmester, o radialista era alguém que “não media esforços para informar, alertar a população do que está acontecendo. Em contraposição à conduta do atual governo, que é cheio de descaso em sua comunicação, usando de desinformação e não cuidando da população como se imagina que um governo federal deva fazer”. 

Burmester conversou com a jornalista Deborah Izola, na edição do Jornal Brasil Atual desta quarta-feira (23), e lembrou que nunca houve um número tão grande de pedidos de impeachment como tem em posse hoje Arthur Lira. “Não dar uma explicação efetiva em relação a isso, que é uma demanda da sociedade, essa mobilização social que não é apenas dos partidos políticos, mas da sociedade organizada como um todo, aponta que algo não está sendo feito”, criticou. 

O presidente da Câmara, no entanto, vem tentando descartar os inúmeros pedidos populares. Em entrevista publicada nesta terça-feira (22) no jornal O Globo, Lira alegou que “falta circunstância” para dar andamento ao processo de afastamento. “Falta um conjunto de coisas. Enquanto a economia tiver em crescimento”. Segundo o deputado, o impeachment “não é feito só disso”, conforme disse em referência às mais de 504 mil vidas perdidas na pandemia. 

Violência contra jornalistas

À Rádio Brasil Atual, a jornalista e coordenadora do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Renata Mielli, avaliou que, enquanto os pedidos de afastamento são ignorados, o presidente da República “institucionaliza as violações à liberdade de expressão e de imprensa”. Segundo a especialista, Bolsonaro usa da violência contra jornalistas para não só dialogar com a sua base de apoio, como também “trabalhar com fatos paralelos, uma outra realidade” que também acabam influenciando na falta de condução da pandemia. “Ele faz isso por meio do seu posicionamento pessoal que alimenta um exército de propagadores de desinformação que atuam nas redes sociais. É como um efeito cascata”, advertiu. 

Para ela, a abertura de um processo de impeachment é o caminho também para o Brasil aprofundar o debate público sobre o enfrentamento da maior crise sanitária, com impactos econômicos, da história recente. 

Quantos pedidos mais?

“A sociedade também precisa compreender que quem define ou não a abertura de processos de impeachment no país é o presidente da Câmara dos Deputados. É cômodo olhar e ver a correlação de forças e pensar ‘que é difícil, somos poucos’. Eu penso que não, temos que pressionar. (…) Precisamos permanecer e ampliar a mobilização para tentar mudar os rumos do nosso país, salvando vidas e a própria nação. Porque estamos passando por um processo de destruição da nossa infraestrutura e soberania em todos os aspectos”, destacou Renata. 

O diretor da Faficla finalizou, ressaltando que as mortes dos brasileiros, também promovem um desequilíbrio nas famílias, que afeta inclusive a economia do país. “Há um ou outro comentário que fala que se solidariza com a dor, mas é quase que um descaso. Na realidade a dor é diária, contínua, o número de mortos fala por si só isso. Quantas perguntas mais, pedidos mais, o presidente da Câmara, Arthur Lira, vai precisar receber? Espero que de fato ele se solidarize com a população, que é quem ele está representando ali na Câmara dos Deputados”, cobrou. 

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima


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