Crime e consequência

Tribunal Popular da Lava Jato volta a se reunir nesta terça-feira

Júri simulado, que condenou simbolicamente a operação em 11 de agosto de 2017, vai debater as recentes decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). “É necessário investigar o porquê de terem agido de forma tão parcial”, aponta advogado criminalista Kakay

Charge Latuff
Charge Latuff
"A questão da operação Lava Jato, que o Moro instrumentalizou o poder Judiciário e os procuradores instrumentalizaram o Ministério Público para fazer política, na verdade não terminou", adverte advogado criminalista. Júri ocorre hoje, às 19h30

São Paulo – O Tribunal Popular do julgamento da Lava Jato, que condenou simbolicamente a operação em 11 de agosto de 2017, volta a se reunir nesta terça-feira (4), virtualmente, às 19h30, para debater as recentes decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) quanto à incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar as ações da Lava Jato e a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro em relação aos processos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De acordo com o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, a proposta do júri é relembrar a decisão de 2017 e abordar as consequências dos atos que continuaram sendo praticados pela operação desde então. “Porque, do meu ponto de vista, a questão da operação Lava Jato, que o Moro instrumentalizou o poder Judiciário e os procuradores instrumentalizaram o Ministério Público para fazer política, na verdade não terminou”, observa o advogado em entrevista a Glauco Faria do Jornal Brasil Atual.

“Não é comum, não é por acaso essa instrumentalidade. Houve efetivamente uma instrumentalização e acho que eles, procuradores e o ex-juiz Moro, têm que responder por isso”, completa Kakay. 

O papel do tribunal popular

Utilizado no mundo inteiro para chamar atenção da opinião pública aos casos que não têm o devido destaque na mídia tradicional, o tribunal popular foi considerado um instrumento fundamental para denunciar o maior escândalo judicial do país. Reconhecido apenas neste ano também pelo STF.

À época, Moro e a Lava Jato ainda gozavam de uma ampla aprovação pública, com espaço garantido nos veículos comerciais, enquanto uma parcela de advogados, juízes e promotores que notavam excessos e abusos cometidos pela operação tinham suas críticas por vezes silenciadas.

“Tudo aquilo que aconteceu de forma irônica, com picardia e humor, mas também com seriedade e profundidade naquele tribunal, foi reafirmado anos depois. Descobriram aquilo que eu e vários colegas denunciamos durante anos no Brasil inteiro. Que esse grupo fazia uma corrupção no sistema de justiça”, relembra Kakay.

Projeto de poder da Lava Jato

“Eles são muito ruins juridicamente e fracos intelectualmente, tanto Moro como os procuradores, mas eram bons de mídia e de marketing”, explica Kakay. Quase quatro anos depois do julgamento popular, a imagem da Lava Jato, no entanto, é outra. Muito em função da reversão de decisões por parte das instâncias superiores e também da chamada Vaza-Jato, o escândalo revelado pelo The Intercept Brasil que tornou pública a relação anti-republicana entre os procuradores com o ex-juiz a partir de conversas secretas no aplicativo Telegram.

“Nós sabíamos das diversas fragilidades de crimes e abusos. Mas a mídia não deixava que as pessoas vissem e esses processos demoram mesmo a chegar no Supremo. E (os integrantes da Lava Jato) foram acumulando derrotas no STF. Nós falávamos dos excessos e eles falavam que nós éramos contra o combate à corrupção. Balela pura. Todo mundo é favorável a combater sob todos os aspectos a corrupção. Mas não se combate cometendo crimes e corrompendo o sistema de justiça”, contesta Kakay. O criminalista, que novamente deve atuar como advogado de defesa no julgamento de hoje, analisa que por trás das intenções da “República de Curitiba” havia sobretudo um projeto de poder. 

“Eu, como advogado de defesa da Lava Jato, vou dizer que me tiraram o projeto das mãos. Porque esse era o objetivo de Moro e desse grupo que o sustentou e que elegeu o ( presidente Jair) Bolsonaro”, adianta Kakay sobre a defesa da Lava Jato hoje. 

Como assistir 

O Tribunal Popular, que terá o julgamento transmitido pelas redes sociais, também contará com a presença de todo o júri técnico que condenou a Lava Jato ainda em 2017. Entre eles, o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, integrantes do Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia – Brasil (Caad) e representantes de movimentos sociais e populares, centrais sindicais, lideranças indígenas e quilombolas. 

Você poderá assistir ao julgamento clicando aqui

Confira a entrevista de Kakay sobre a Lava Jato

Redação: Clara Assunção