CPI da Covid

Senadores do Nordeste questionam Barra Torres sobre veto da Anvisa à Sputnik V

“Não quero crer que a discriminação odiosa contra estados do Nordeste (por Bolsonaro) continue”, disse Otto Alencar. “A proteção à vida é o grande objeto da Anvisa”, afirmou Rogério Carvalho

Agência Senado
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Senadores Otto Alencar (esq) e Rogério Carvalho quiseram saber sobre motivos que levaram agência a aprovar AstraZeneca e não Sputnik V

São Paulo – No depoimento do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres na CPI da Covid, nesta terça-feira (11), os senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Rogério Carvalho (PT-SE), ambos médicos, foram incisivos nos questionamentos sobre os porquês de a importação da vacina russa Sputnik V não ter sido aprovada pelo órgão. O parlamentar baiano lembrou que a própria Anvisa divulgou hoje uma recomendação pedindo a paralisação da vacinação contra a covid-19 de mulheres gestantes com AstraZeneca/Fiocruz, após a morte de uma gestante no Rio de Janeiro. “Então tem risco”, disse o senador.

Sendo assim, ele quis saber por que a vacina russa foi vetada e a britânica, não. “O senhor sabe que uma trombo-embolia mata”, continuou o parlamentar, em referência à reação adversa associada à AstraZeneca. “Ah, sim”, concordou Barra Torres. “Mas a vacina foi aprovada pela Anvisa. A agência insiste em afirmar a presença de adenovírus replicantes em índices não seguros apenas na Sputnik V, mas não na outra com a mesma tecnologia”, questionou. Ele perguntou, então, por que não houve “tratamento similar” pela Anvisa aos dois imunizantes, se as informações sobre ambos foram fornecidas pelos respectivos fabricantes.  

Segundo o presidente da Anvisa, “as informações têm de estar atreladas à metodologia do raciocínio” para se chegar a conclusões. “Isso estava presente na aprovação da AstraZeneca, mas não estava na da Sputnik V, pelo menos até aqui”, explicou. De acordo com Barra Torres, novos documentos foram juntados ao processo e estão em análise. Como disse em coletiva realizada para refutar as alegações da fabricante russa, que disse que a Anvisa “mente”, “não tem nenhuma porta fechada” ao imunizante, que “tem condições” de ser aprovado.

Consórcio do Nordeste

Rogério Carvalho mencionou o virologista Amilcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em nota na semana passada, o Consórcio Nordeste citou um parecer do especialista, segundo o qual a Sputnik V tem um perfil de segurança e eficácia comprovadas por testes clínicos e em avaliação de campo, após vacinação em vários países.

De acordo com o virologista, à época do licenciamento da vacina na Rússia foi aprovado um limite de 100 RCA (adenovírus replicantes) por dose vacinal, que seria 30 vezes maior do que permitido pela Food and Drug Administration (agência reguladora dos Estados Unidos). Mas, durante a fase de desenvolvimento da vacina e na sua industrialização, os testes de RCA deram não-detectáveis nas doses vacinais amostradas, segundo Tanuri. Além dessas informações, Carvalho citou dados sobre eficácia de 91,6% do imunizante.

Segundo Barra Torres, houve “lacunas de informação” na documentação do Instituto Gemaleya, fabricante da Sputnik V, e faltaram “informações sobre agentes adventícios: qualquer fragmento de cultura que não deveria estar ali”, segundo ele. “O desenvolvedor tem que mostrar qual elemento de controle usou. Isso não veio”. Houve ainda ausência de validação de processo, que é “repetir o processo ad nauseam e chegar ao mesmo resultado”. De acordo com o gestor, “é preciso que todo o processo seja demonstrado”, para a análise dos técnicos. Ele acrescentou que também faltaram dados sobre eventuais interferências da vacina no sistema reprodutivo humano.

Discriminação de Bolsonaro

Otto Alencar falou ainda sobre o longo tempo (cinco meses) que a Anvisa demorou para analisar a vacina russa e lembrou a discriminação que os estados de Nordeste vêm sofrendo por parte do governo de Jair Bolsonaro. Ele sugeriu que os problemas com a Sputnik V poderiam estar associados a isso. “Não quero crer que a discriminação odiosa contra estados do Nordeste (por Bolsonaro) continue no governo, sobretudo que tenha contaminado a Anvisa”, disse. Carvalho acrescentou que a urgência das dezenas de milhões de doses da vacina russa, que o Nordeste quer trazer, supera em muito os alegados riscos da vacina. “A proteção a vida é o grande objeto da Anvisa”, afirmou o petista.

Em março, os governadores Flávio Dino (Maranhão) e Rui Costa (Bahia) protocolaram uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra Bolsonaro, entre outros motivos devido a uma publicação do presidente no Twitter, na qual ele distorce informações sobre verbas repassadas aos estados em 2020 e soma valores gerais com os específicos para combate à pandemia.


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