Na CPI

Randolfe: se Bolsonaro não atrapalhasse, Coronavac poderia ter evitado segunda onda

Em outubro, Bolsonaro “mandou cancelar” oferta do Instituto Butantan que previa um total de 100 milhões de doses da CoronaVac

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
'Quantas vidas poderiam ter sido salvas a essa altura?", indagou o senador

São Paulo – O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou à CPI da Covid nesta quinta-feira (27) que 100 milhões de doses da CoronaVac poderiam ter sido entregues ao Ministério da Saúde até o fim deste mês, se Jair Bolsonaro não tivesse interrompido as tratativas para a assinatura do contrato para o fornecimento das vacinas, em outubro do ano passado. Ante a acusação, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da comissão, destacou que essas doses teriam servido para conter a chamada segunda onda da pandemia no Brasil. “Podíamos ter 50 milhões de brasileiros imunizados (com as duas doses). Quantas vidas poderiam ter sido salvas a essa altura?”, indagou o senador. “Essa segunda onda poderia ter sido impedida. Ou, no mínimo, minimizada. A informação prestada pelo doutor Dimas é da maior gravidade.”

Após a primeira onda, os números de casos e mortes voltaram a subir a partir de novembro de 2020. Abril foi o mês mais letal da pandemia, com mais de 82 mil óbitos pela covid-19 registrados oficialmente.

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Na abertura do seu depoimento, Dimas Covas relatou que, em 20 de outubro, havia se reunido com o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para acertar os últimos detalhes para o fornecimento de 100 milhões de doses da CoronaVac. No contrato havia a previsão de entrega de 60 milhões ainda em dezembro de 2020. Contudo, no dia seguinte à reunião, as conversações não prosseguiram mais, por conta de uma “manifestação” de Bolsonaro.

“Mandei cancelar”

O vídeo com as referidas declarações de Bolsonaro, durante visita a um centro militar da Marinha no litoral de São Paulo foi exibido na CPI, a pedido de Randolfe. Na ocasião, Bolsonaro declarou: “Já mandei cancelar. Se ele (Pazuello) assinou, já mandei cancelar. O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade. Nada será despendido para comprarmos uma vacina chinesa que desconheço, mas parece que nenhum país está interessado nela.” No dia seguinte, em transmissão ao vivo ao lado de Bolsonaro, Pazuello afirmou: “Senhores, é simples assim: um manda e o outro obedece”.

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Além disso, o vice-presidente da Comissão ainda listou uma série de manifestações de apoiadores de Bolsonaro contrários à CoronaVac, ocorridas entre agosto e novembro do ano passado. Nesse sentido, citou também um banner do governo federal contra a vacinação obrigatória. “Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina. O governo do Brasil reza pela liberdade dos brasileiros”, dizia a publicidade veiculada a partir de 1º de setembro. “O governo federal estimulou campanha aberta contra a vacina produzida pelo Instituto Butantan”, concluiu Randolfe.


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