ENTRE VISTAS

Raí: ‘É inaceitável o que vivemos com Bolsonaro’

Em artigo, ex-jogador classificou presidente como ‘destruidor’ e ‘negacionista’

Rubens Chiri/saopaulofc.net
Rubens Chiri/saopaulofc.net
Para Raí as eleições presidenciais de 2022 será um dos momentos mais decisivos da nossa história, sendo a chance de evitar que a destruição se aposse do país

São Paulo – Ex-jogador e campeão do mundo em 1994, Raí é enfático ao classificar como “inaceitável” o Brasil regido pelo presidente Jair Bolsonaro. Em recente artigo publicado, o ex-meio campo fez uma analogia do livro A Peste (1947), do escritor Albert Camus, com a pandemia e o governo federal, e chama Bolsonaro de “destruidor” e “negacionista”.

Ao jornalista Juca Kfouri, apresentador do programa Entre Vistas, da TVT, Raí afirma que o texto é um sinal de que transbordou com os absurdos observados no Brasil. “A gente tem vivido muitas coisas inaceitáveis. Eu já fiz outras declarações sobre Bolsonaro, desde a festa de parte dos brasileiros com a eleição dele, mas quando você vê um secretário de Cultura fazer um discurso nazista, ou o ministro do Meio Ambiente fazendo de tudo para destruir o meio-ambiente, o texto foi uma maneira de expressar a revolta minha e de grande parte do país. É muita coisa inaceitável que estão empurrando goela abaixo em nós.”

Em seu artigo publicado no jornal francês Le Monde, o ídolo do São Paulo escreve: “Enfim, a Peste que nos destrói, destrói a razão e o bom senso, que perturba nossa essência, nossa consciência e nega a ciência”, substituindo o nome de Bolsonaro por “Peste”, e segue: “A Peste que promove o ódio é inimiga das artes e da cultura. Ela, que tem suas próprias variantes, é obra de um clã. Associada ao distanciamento, ao negacionismo, a desinformação, a mentira, acaba por reprimir, mesmo que temporariamente, nossa revolta, resistência e indignação”.

Para o ex-atleta, as eleições presidenciais de 2022 será um dos momentos mais decisivos da nossa história. Na avaliação dele, tirar Bolsonaro da Presidência será a chance de evitar que a destruição predomine no país. “Há um mal que espera a oportunidade para se empossar e a extrema direita está atrás disso. E isso não só no Brasil, mas no mundo. Eu sempre fui moderado e otimista, mas a perversidade do ser humano está sobressaindo e precisa ser freada”, disse.

Democracia no futebol

Além de ídolo do São Paulo, Raí comandou a diretoria de futebol entre dezembro de 2017 e fevereiro de 2021. Durante sua passagem como diretor de futebol, expressou seu posicionamento contra Bolsonaro e foi criticado por “misturar política com o futebol“.

Sem nenhuma vinculação profissional com o clube tem sido mais fácil expressar suas críticas ao governo Bolsonaro, segundo ele. “Nunca deixei de fazer enquanto diretor do São Paulo, mas diante da polarização atual foi complexo isso. Porém, é preciso entender que o futebol é política e precisa ser um instrumento de exercício da democracia”, defendeu.

Raí explica também que a aplicação da democracia no futebol também passa pelo lado financeiro e entender o papel social do esporte. Ele cita dois exemplos: a Inglaterra e sua ONG, a Fundação Gol de Letra. “A Inglaterra tem uma das ligas mais ricas do mundo e, apesar de ser capitalista, consegue bancar uma estrutura enorme no futebol do país. Conheço jogadores das divisões mais inferiores, e até de ligas comunitárias, que são mantidos por essa estrutura”, citou.

Já sua fundação visa promover a educação integral de crianças, adolescentes, jovens e adultos por meio do esporte. “A experiência prática da fundação só me deixa mais inquieto para fazer isso numa escala maior. O futebol e o esporte têm uma grande repercussão e mobilização social, com um papel social enorme. Depois de mais de 20 anos de experiência, a minha luta é para que a fundação seja um modelo para uma política pública”, finalizou.

Assista à entrevista completa: