CPI DA COVID

Mayra Pinheiro é criticada após confirmar que recusou recomendações da OMS

Integrante do Ministério da Saúde, ‘Capitã Cloroquina’ disse que Brasil não era obrigado a seguir órgãos internacionais, pois “falharia”

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Mayra Pinheiro, que recomenda remédios sem comprovação científica, afirmou ainda à CPI que a OMS organização se baseou em estudos questionáveis

São Paulo – A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, afirmou à CPI da Covid, nesta terça-feira (25), que o governo federal se recusou a seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) no combate à pandemia.

Conhecida como “Capitã Cloroquina”, a médica pediatra foi criticada por afirmar que o Brasil não seguiu as recomendações médicas internacionais, pois, segundo ela, “o país não é obrigado” e caso seguisse, “teríamos falhados” no controle da doença – que atingiu 450 mil mortes, ontem (24).

Acompanhe o depoimento

Mayra Pinheiro, que recomenda remédios sem comprovação científica, afirmou ainda à CPI que a OMS se baseou em estudos questionáveis. O depoimento da pediatra foi criticado nas redes sociais. “Ela acabou de admitir que o Ministério da Saúde insistiu no uso da cloroquina, mesmo diante das orientações contrárias da OMS”, ressaltou o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).

Diante a omissão da secretaria do órgão de saúde, o jornalista Leonardo Sakamoto lembrou: “O Brasil, que não seguiu a OMS, contabiliza 450 mil cadáveres”. O também jornalista Renato Souza, do Correio Braziliense, disse que o discurso de Mayra Pinheiro “deixa claro o negacionismo que tomou o Ministério da Saúde na pandemia”. “Ela defende a imunidade de rebanho, orienta ignorar recomendações da OMS e uso de medicamentos sem eficácia com base em achismo. Está claro o genocídio contra a população”, criticou.

Cloroquina

Mayra Pinheiro começou seu o depoimento à CPI da Covid celebrando ser a primeira médica a atuar no trabalho com pacientes com covid-19 utilizando “as medicações disponíveis”. Ela ainda declarou que sempre atuou com base “nas verdadeiras premissas médicas e científicas”.

Ela afirmou ainda que o Ministério da Saúde “apenas” orientou os tratamentos precoces para covid-19 e buscava respeitar a autonomia dos médicos para receitar os medicamentos. Ela disse ainda que sua decisão foi baseada em 2 mil artigos publicados.

A coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Tatiana Roque, também fez críticas ao depoimento. “A Capitã Cloroquina defende tomada de decisão baseada em respeito à autonomia médica. Não! Esse é o ponto. Políticas de saúde pública não se baseiam em decisões individuais. É política de Estado, que deve se fundar em recomendações dos órgãos técnicos competentes, como a Anvisa”, explicou.

Ao se escorar no argumento de “autonomia médica”, a pediatra busca esconder sua responsabilidade, avalia o médico e pesquisador André A. Dourado. “Mayra Pinheiro não tem coragem de assumir na CPI o que fez: incentivar medicamentos sem eficácia para promover imunidade de rebanho por contágio. Ou seja, assim como Pazuello, Ernesto, Wajngarten e Queiroga, ela mostra que sabe que as condutas não são defensáveis”, disse ele.

A jornalista da Folha de S.Paulo Sabine Righetti também rebateu o argumento da médica sobre os 2 mil artigos publicado sobre o uso da cloroquina em paciente de covid-19. De acordo com a repórter, ao analisar os estudos, a grande maioria chega ao consenso para a não utilização do medicamento.

Imunidade de rebanho

Relator da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) apresentou áudios de vídeos da secretária Mayra Pinheiro para questioná-la sobre as ações no Ministério da Saúde durante a pandemia. Em um vídeo apresentado, ela defende a imunidade de rebanho. 

De acordo com ela, a declaração defendia “apenas” que a tese da imunidade de rebanho, contraindicada por especialistas, fosse aplicada em crianças para que as aulas continuassem. Tavos Silva, apresentador do podcast Mimidias, rebateu: “Então, a ideia era para colocar professores e profissionais da educação em risco?”, publicou nas redes sociais.


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