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Temos de criar uma nova sociedade, baseada no amor, humanidade e paz, diz Lula

Em entrevista a TV dos Estados Unidos, ex-presidente volta a criticar desrespeito de Bolsonaro pela vida dos brasileiros, pede quebra de patentes de vacinas, elogia primeiros dias do governo Biden e reforça que não é hora de falar em eleição

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Lula falou com a jornalista Amna Nawaz, do PBS News Hour

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a ser entrevistado por um canal internacional de televisão, desta vez para a jornalista Amna Nawaz no programa News Hour, da PBS, sediada em Nova York, Estados Unidos. Novamente ele condenou a falta de respeito da gestão Bolsonaro pela vida dos brasileiros na pandemia da covid-19, defendeu a quebra de patentes para que as vacinas cheguem ao mundo inteiro, elogiou pontos da gestão Joe Biden e repetiu que eleição é assunto para outro momento. Por fim, mandou uma mensagem aos brasileiros, dizendo ser necessário criar uma “nova sociedade, baseada no amor, humanidade e paz”.

A jornalista começou a entrevista dando um panorama da catástrofe da pandemia no Brasil e perguntando o que Lula faria se estivesse no comando do país. “O problema da pandemia no Brasil e nos EUA, quando o Trump era o presidente, é que ela foi tratada com falta de responsabilidade e com muito desprezo tanto por Trump quanto por Bolsonaro. Eles não tiveram respeito pela vida das pessoas”, respondeu Lula. “(No Brasil), não discutimos ciência, não criamos um protocolo, não reunimos especialistas. Os cientistas estavam afundando com um presidente que não tinha responsabilidade e agora ele está tentando correr atrás do prejuízo.”

A seguir, foi questionado sobre o que deveria ser feito daqui para frente. “Temos agora que garantir que todo o necessário seja feito para vacinar todo o povo brasileiro. Fazer a política de distanciamento social e evitar aglomerações o máximo que pudermos. Temos de criar condições adequadas para dar auxílio emergencial para os que estão desempregados possam comer. E temos de garantir um crédito especial para que as pessoas possam continuar a trabalhar em suas pequenas e médias empresas. Ou seja, temos de fazer o que o Biden já fez nos Estados Unidos. Temos de aumentar a nossa base monetária para dar condições de sobrevivência ao povo brasileiro.”

Quebra de patentes e Índia

Sobre vacinas, Lula voltou a defender que todos os principais líderes mundiais façam uma reunião extraordiária “seja no G20, no G8 ou na ONU” para tomarem a decisão de quebrar as patentes de vacinas “para que sete bilhões de habitantes do mundo tenham direito de tomar”, defendeu. A seguir, afirmou que seria preciso começar a discutir uma nova governança mundial: “já foi provado que, como veio a crise da pandemia, os países não estavam preparados e cada um tentou achar uma solução individual. Não existe uma saída individual para essa crise”.

Lula também foi questionado se o Brasil foi tratado com menos apoio do que a Índia, também muito impactada pela covid-19, especificamente por causa de Bolsonaro. “Porque eu acreditaria que o presidente não é o responsável?”, respondeu. “O que aconteceu é que o nosso presidente tomou a decisão de virar um pária. Ele não fala com ninguém. Ninguém quer falar com ele. O Brasil se isolou.”

Não é hora de eleição

As eleições 2022 foram outro ponto abordado, com Amna Nawaz questionando o porquê de Lula não assumir a candidatura, mesmo com as últimas pesquisas mostrando uma larga vantagem a seu favor. “Não posso me preocupar com pesquisas agora, porque no momento a pandemia ainda é uma questão de segurança no Brasil. Agora estamos chegando no inverno e talvez chegue uma nova onda. Eu espero que não e peço a Deus que não volte de novo tão forte. Mas temos de cuidar do povo, não das eleições. Quando chegar a hora de discutir as eleições, vamos discutir as eleições”, repetiu.

A entrevistadora insistiu, perguntando o que impedia Lula de se colocar como candidato, o que poderia acontecer até o ano que vem ou se teria algum nome mais forte para disputar contra Bolsonaro. “O que eu posso dizer é que eu não fui candidato em 2018 porque criaram uma farsa jurídica. Não há nenhum processo judicial contra mim agora, então eu posso concorrer.”

Joe Biden

Em seguida, Amna Nawaz citou o comentário de uma analista dizendo que a estratégia de Lula era similar à de Biden, se colocando como um estadista mais experiente e de centro para unir o país após uma polarização bem nociva. O ex-presidente brasileiro aproveitou para elogiar o atual chefe do governo estadunidense. “Eu fiquei muito emocionado quando vi a declaração de Joe Biden sobre o plano econômico que ele tem, da quantidade de dinheiro que ele vai investir na saúde para ajudar os pobres nos Estados Unidos. Então acredito que o Biden está fazendo um bom trabalho para os Estados Unidos”, disse.

A seguir, apontou onde o presidente norte-americano poderia melhorar. “Acho que ele tem de se abrir um pouco mais para a América Latina e América do Sul, porque os presidentes dos Estados Unidos se esquecem da América Latina. No passado, estavam bem mais preocupados com a Rússia. Depois, com os terroristas e agora, com a China. É preciso lembrar que tem mais gente no mundo. Os Estados Unidos precisam aprender que a boa política internacional é construída com base na parceria. Economicamente falando, quanto mais os países pobres crescerem, melhor será para os Estados Unidos. É necessário partilhar a riqueza.”

Nova sociedade

Por fim, a entrevistadora pediu para que Lula mandasse uma mensagem para o povo brasileiro sobre um eventual recomeço. Além de defender “uma nova sociedade, baseada no amor, humanidade e paz”, lembrou de sua passagem pela presidência da República. “Tenho consciência de que quando eu estava na presidência, pudemos ter a maior política de inclusão social que o Brasil já teve. Tiramos 36 milhões da pobreza e levamos outros 40 milhões para a classe média. Criamos 21 milhões de empregos, colocamos milhões de jovens nas universidades públicas. Se eu voltar para o Brasil, não posso fazer menos. E para isso que gostaríamos de voltar à presidência. Para redemocratizar o país. Isso é um pouco do que Biden terá de fazer nos Estados Unidos. Ele terá de destruir o ódio que Trump desenvolveu. (Nós) temos de destruir o ódio que Bolsonaro desenvolveu”, encerrou.

Assista à íntegra da entrevista


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