Esquerdas

Glauber Braga se lança candidato a presidente. Lideranças e presidente do Psol discordam

Deputado do RJ diz que nome do partido precisa “ter radicalidade política”. Juliano Medeiros defende que é “hora de lutar pela unidade das esquerdas”. Boulos e Freixo não se manifestam

Pablo Valadares/Ag. Câmara
Pablo Valadares/Ag. Câmara
Construção de uma plataforma comum “tem que estabelecer limites evidentes”, aforma deputado do RJ

São Paulo – O deputado federal do Psol Glauber Braga (RJ) anunciou nesta segunda-feira (10) que aceita “a empreitada” de postular a candidatura à presidência da República em 2022. O parlamentar é apoiado por “um conjunto de militantes e correntes” do partido sobre a possibilidade, movimento que, segundo ele, se intensificou nas últimas semanas. Braga elenca uma série de fatores pelos quais afirma ser necessário o lançamento. Entre eles, a necessidade de um programa “que não tenha medo de dizer que é de esquerda”.

O deputado explica que a decisão não significa “virar as costas” para a unidade de esquerda, mas ressalva que o diálogo em direção à união e a  construção de uma plataforma comum “tem que estabelecer limites evidentes”. “Não dá para contar com (João) Doria, (Sergio) Moro, (Rodrigo) Maia, (Jorge Paulo) Lemman e companhia”, disse em vídeo divulgado no Twitter pela deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP).

“É possível defender unidade na esquerda contra Bolsonaro e ao mesmo tempo ser pré-candidato a presidente do Brasil pelo PSOL apresentando o programa da esquerda radical de forma não sectária? SIM! Muito obrigado às correntes e militantes que me incentivaram pra essa tarefa. Topo!” (mantida a grafia da postagem), afirmou o deputado do Rio de Janeiro na mesma rede social. Segundo defendeu no vídeo divulgado por Sâmia, sua companheira, Braga afirma que a candidatura do Psol precisa “ter radicalidade política”.

Isso significa, de acordo com ele, compromisso com referendo que reverta “o desmonte” promovido pelos governo de Michel Temer e de Bolsonaro. Ele cita as privatizações, as reformas trabalhista e da Previdência. Além de Sâmia, apoiam a iniciativa do deputado as deputadas federais Luiza Erundina (Psol-SP) e Fernanda Melchionna (Psol-RS), o deputado Davi Miranda (Psol-RJ), Luciana Genro (candidata do partido à presidência da República em 2014), o ex-deputado federal Milton Temer e o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Roberto Amaral, entre outros.

“É uma precipitação”

Para o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP), o partido tem uma posição clara, que é discutir a eleição de 2022 no congresso do partido, em setembro. A posição de Glauber Braga “é uma precipitação, na minha opinião”, diz o parlamentar. “Temos no momento outras prioridades. A principal agora é combater Bolsonaro e o bolsonarismo, juntar todas as forças de oposição, lutar pela vacinação em massa, pelo auxílio emergencial e pelo impeachment de Bolsonaro”, acrescenta o deputado paulista, que hoje entrou com pedido de uma “CPI do Bolsolão”, para investigar o orçamento paralelo, de R$ 3 bilhões em emendas com as quais Bolsonaro “argumentou” para obter apoio do Centrão no Congresso Nacional. “Assim como a CPI da Covid está lá para investigar o maior crime de responsabilidade do Bolsonaro. A eleição nós vamos definir no momento certo.”

Em seu manifesto, Braga também diz que o lançamento de seu nome tem como prioridade o combate a Bolsonaro. “Se você coloca essa discussão agora, vai voltar o partido para a luta interna. Isso é contraproducente e é gastar energia em luta interna”, avalia Ivan Valente. Porém, ele não vê a situação como racha do Psol. “Não tem racha nenhum. Vai ter um Congresso do partido, e o partido vai definir por maioria qual vai ser a tática eleitoral e o programa. Essa é uma atitude de quem quer precipitar o debate, e não é o momento.”

Freixo e Boulos não se manifestam

Entre os apoiadores de Glauber fora do partido, Roberto Amaral afirma que está de acordo com o direito do deputado fluminense de postular a pré-candidatura. “Até chegar a 2022 tem um longo caminho. Ele promete marcar a defesa dos princípios do socialismo, o que eu acho importante”, diz o ex-ministro e ex-presidente do PSB. Amaral destaca que um dos focos da pretensa candidatura de Glauber Braga é o combate a Bolsonaro, como está no manifesto.

A posição de Valente é semelhante à do presidente do Psol, Juliano Medeiros. “Hoje um grupo de lideranças do PSOL divulgou manifesto defendendo candidatura do partido à presidência da República. Considero o momento inoportuno para esse debate. É hora de lutar pela unidade das esquerdas e por um programa anti-neoliberal para 2022. Essa é nossa prioridade”, escreveu no Twitter. Segundo ele, é direito dos filiados manifestarem suas opiniões. “Mas, como presidente, me oriento pelas posições oficiais do Psol.” Lideranças de peso do partido, como o deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ) e o ex-candidato da legenda à presidência da República Guilherme Boulos não se manifestaram sobre o assunto.


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