CPI da Covid

Ex-ministro Pazuello mente sobre aviso da falta do oxigênio em Manaus

O general desconversou sobre omissão do Ministério da Saúde no caso e disse que não sabe de quem partiu a ordem para ampliar a produção de cloroquina pelo laboratório do Exército

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Pazuello blindou Bolsonaro. Negou pressões para diretriz sobre uso da cloroquina e adoção do medicamento no SUS

São Paulo – O ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello mentiu à CPI da Covid sobre a data em que foi avisado sobre a falta de oxigênio em Manaus. Tentando se livrar de sua responsabilidade pela omissão que levou a dezenas de mortos no pico da crise, em janeiro, disse que somente na noite do dia 10 foi informado da situação.

No entanto, no dia 18 de janeiro Pazuello havia admitido publicamente que tomou ciência do problema dez dias antes, por meio de uma carta da White Martins no dia 8. Integrantes do governo do Amazonas declararam que o então ministro foi avisado sobre o problema com antecedência.

Até porque o estado vinha atuando conjuntamente com o Ministério, devido à força com que chegou a segunda onda da pandemia. A informação foi confirmada pela Advocacia-Geral da União (AGU) em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito de uma ação movida pelo PT e PCdoB. 

Pazuello gaguejou

Pazuello ainda minimizou a gravidade da crise causada pela falta de oxigênio. Disse que a fornecedora White Martins teve uma redução em seu estoque regulador, de 300 mil metros cúbicos, normalizado no dia 15. Mas foi desmentido pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM), que ressaltou que o Ministério da Saúde só enviou cargas de oxigênio nos dias 24 e 25. E que no dia 30 ainda havia desabastecimento nos hospitais.

Diante de alegações de suposta competência da pasta no combate à pandemia, o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL) o questionou sobre os motivos de as ações não terem impedido o colapso. Pazuello gaguejou e volto a dizer que apenas no dia 10 havia recebeu informações de gestores do Amazonas.

O general foi inquirido também sobre a ampliação da produção de cloroquina pelo laboratório químico do Exército. “O laboratório apenas atende demandas, não faz planejamento. A cloroquina é usada contra malária, por isso deve estar sendo fabricada ainda”, disse, negando ter autorizado o aumento da produção ou mesmo saber de quem partiu a ordem.

Bolsonaro blindado

A exemplo do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e do ex-secretário especial de comunicação social, Fabio Wajngarten, Pazuello também blindou o presidente Jair Bolsonaro. Afirmou que não houve pressão do Palácio do Planalto para a publicação da nota informativa 17/20, que normatizava o uso de cloroquina. Tampouco para o uso do medicamento no SUS. “Estávamos alinhados com o Conselho Federal de Medicina (CFM), que defendia que o médico deveria ter liberdade para prescrever. Se eu não publicasse a nota, estaria prevaricando, disse.

Questionado sobre a manutenção da nota, apesar de estudos atestando sua ineficácia no tratamento de doentes de covid-19, Pazuello disse que não revogou porque trata-se de “uma discussão que ainda está em aberto”.