Ministro investigado

Escritório de Ricardo Salles: R$ 14 milhões e poucos serviços prestados

Embora tenha movimentado muito dinheiro de 2012 a 2020, escritório teve pouquíssimos clientes de serviços advocatícios no período

Marcelo Camargo/ABR
Marcelo Camargo/ABR
Ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro é investigado por enriquecimento ilícito e ligações com contrabando de madeira ilegal

São Paulo – O ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro, Ricardo Salles, movimentou em seu escritório de advocacia pouco mais de R$ 14 milhões no período de 1º de janeiro de 2012 a 30 de junho de 2020. O montante aferido pela Polícia Federal é considerado anormal. Tanto que requer “por cautela, a necessidade de maiores aprofundamentos”, conforme o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga ligações de Salles com a exportação de madeira extraída ilegalmente da Amazônia.

Também chamam a atenção indícios de que no mesmo período o escritório deveria enfrentar problemas, com baixa clientela para serviços advocatícios. Um deles é a dificuldade financeira que Ricardo Salles estaria enfrentando. Em 2013, o então advogado entrou na Justiça pedindo a revisão, para baixo, do valor da pensão alimentícia de seus dois filhos.

Conforme um parecer da Procuradoria de Justiça de São Paulo, que levou à quebra dos sigilos de Salles no âmbito do inquérito civil do Ministério Público de São Paulo que investiga o seu suposto enriquecimento ilícito, a proposta era reduzir de R$ 8.500 para R$ 3.700 mensais. O argumento era de que a renda média mensal do escritório naquele ano era de apenas R$ 1.500.

Rendimento incompatível

Ainda segundo o parecer, seu rendimento com o exercício da advocacia “era bastante modesto, insuficiente para justificar sua evolução patrimonial”. E que mesmo os “relevantes cargos exercidos, sem qualquer demérito, não eram próprios da área jurídica governamental, nem exigiam expertise jurídica”.

Salles foi nomeado secretário pessoal de Geraldo Alckmin em março de 2013, sendo exonerado em novembro de 2014. E em julho de 2016 voltaria ao governo como secretário estadual do Meio Ambiente. Permaneceu no cargo até o final de agosto de 2017.

De acordo com o procurador Ricardo Dias Leme, autor do parecer, antes de ocupar as funções no governo Alckmin, Salles “não era um advogado afamado. E nem depois do referido exercício ganhou projeção especial na advocacia”.

Salles no governo Alckmin

“É no mínimo curioso que alguém que percebeu a média de R$ 1.500,00 de rendimentos mensais da advocacia em 2013, antes de assumir o cargo de Secretário Particular do Governador, que não possuía rendimentos superiores a cerca de R$ 12.445,00, líquidos em agosto de 2014, possa ter tido uma variação patrimonial de 604% entre 2012 e meados de 2018”, ponderou Leme.

E conforme acrescentou em seu parecer, ao longo dos 13 meses e meio exercendo cargo público, Salles percebia uma remuneração média de R$18.413,42. E ainda estava impedido de advogar.

Segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo, em sua carreira como advogado, Ricardo de Aquino Salles assinou a defesa em nove processos, todos ainda na primeira instância. O último deles data de 2012, sobre uma disputa imobiliária. Sua mãe e sócia, Diva Carvalho de Aquino, atuou em 57 processos, sendo quatro em 2012, um em 2013, um em 2014, outro em 2015 e o último em 2015. Todos envolvendo pequenas causas.

Ricardo Salles e o tráfico de influência

Módico, o escritório funciona em um edifício residencial em Cerqueira César, bairro nobre da capital paulista. O endereço divulgado pela Polícia Federal, onde foi feita operação de busca e apreensão, coincide com o endereço residencial do ministro do Meio Ambiente.

O edifício está localizado nas proximidades do Clube Paulistano, muito frequentado por Salles. Segundo desafetos, ele teria aproveitado o local para acertar agendas e encontros no âmbito do tráfico de influência que teria promovido no período de 2013 a 2017, quando esteve no governo tucano.

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