CPI DA COVID

Dimas Covas afirma que governo Bolsonaro prejudicou a produção da Coronavac

Presidente do Instituto Butantan diz que ataques do governo à China atrapalharam na aquisição de insumos e manchou imagem do trabalho com a vacina

Jefferson Rudy/Agência Senado
Jefferson Rudy/Agência Senado
As declarações feitas contra o Instituto Butantan e a nacionalidade da vacina atrapalharam na imunização da população, segundo Dimas Covas

São Paulo – O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou à CPI da Covid, nesta quinta-feira (27), que o governo de Jair Bolsonaro prejudicou a produção da Coronavac. Segundo o executivo, as declarações do presidente contra a nacionalidade do imunizante, os ataques contra a China e a politização da vacina atrasaram a vacinação da população.

O médico e representante do Butantan atribuiu ao presidente da República a culpa pelo atraso na vacinação com a Coronavac. Ele lembrou do protocolo de intenções para a venda de vacinas ao Ministério da Saúde, assinado em 19 de outubro, mas que ficou em “suspenso” por quase três meses, após as falas de Bolsonaro de que não compraria a vacina Coronavac. “A troca de documentos e conversas com os técnicos do Ministério da Saúde foram suspensas. Um dia antes da reunião com o ministro (Eduardo Pazuello), havia um compromisso de incorporação, que foi só concretizada em janeiro”, lamentou.

Dimas Covas revelou também que solicitou apoio financeiro ao Ministério da Saúde, em agosto de 2020, para realização do estudo clínico. Entretanto, Bolsonaro não permitiu e gravou um vídeo dizendo ao governador João Doria (PSDB) para “procurar outro para pagar a vacina”. “Solicitei recursos, R$ 80 milhões. E todas essas iniciativas não tiveram resposta positiva do governo federal”, disse o especialista.

O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (MDB-AM), lembrou do episódio “um manda e outro obedece”, dito por Eduardo Pazuello, após Bolsonaro proibir a compra da Coronavac. Em seguida, o relator Renan Calheiros (MDB-AL) lembrou que Pazuello afirmou, em depoimento à CPI, que essas declarações não impactaram.

Dimas Covas deu o exemplo do contrato com a AstraZeneca, firmado em agosto de 2020 pelo governo federal, sendo que, com o Butantan, foi assinado em janeiro. “Ainda adiantaram recursos para eles. A nossa só foi respondida após seis meses da primeira oferta”, relatou o presidente do instituto. “Se fala muito da permissão da Anvisa. Colocaram quase R$ 2 milhões numa que também não estava aprovada, mas se recusou a investir numa vacina por ser chinesa”, acrescentou Omar Aziz.

Ataques à China prejudicaram

Ainda em seu depoimento à CPI da Covid, o diretor do Instituto Butantan afirmou ser “indiscutível” que, se o governo de Bolsonaro tivesse uma posição mais pragmática, facilitaria a liberação e entrega de insumos pela China para a produção de vacinas.

Dimas Covas explicou que a China é a maior exportadora de vacinas contra a covid-19 no mundo e que os ataques do governo ao país oriental transformaram o Brasil num “vizinho chato”. “Cada declaração dada no Brasil repercute na imprensa e isso reflete nas dificuldades burocráticas. O que era resolvido em 15 dias, hoje demora um mês. Nós sentimos essa dificuldade, assim como a Fiocruz”, afirmou.

Covas também relatou que teve uma reunião com o embaixador da China no Brasil, acompanhados de ministros brasileiros, como o chanceler Carlos França e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. No encontro, o embaixador disse a eles que as falas do governo brasileiro poderiam afetar a relação e a entrega de insumos. “O embaixador deixou claro que posições que são antagônicas causam inconformismo no lado chinês”, disse à CPI.

Bolsonaro atrapalhou testes

O diretor Dimas Covas lamentou a campanha feita nas redes sociais contra a vacina Coronavac, impulsionada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Segundo Covas, a ação prejudicou a credibilidade do instituto e atrasou a seleção de voluntários nos testes do imunizante.

Calheiros perguntou se Dimas considerava que o Butantan foi tratado com respeito pelo governo, e ele se disse “decepcionado”. “Questionar o Butantan significa questionar a qualidade da saúde pública brasileira. Essa campanha que foi feita pelas mídias sociais desqualificando a vacina, o Butantan, sem duvida nenhuma trouxe prejuízos à imagem do instituto”, afirmou ele.

Renan Calheiros lembrou que Bolsonaro fez, ao menos, 14 ataques contra a Coronavac. Dimas Covas disse que as declarações fizeram o Instituto trabalhar “intensamente” para esclarecer a população. “O estudo clínico era pra ter terminado em outubro, mas houve dificuldade de achar voluntários, porque havia um combate à vacina nas redes sociais. Em cima da qualidade do estudo, também houve ataques”, lamentou.

As declarações feitas contra o Instituto Butantan e a nacionalidade da vacina atrapalharam na imunização da população, segundo Dimas Covas. “Se houve dificuldades foi por parte do Ministério nesse momento crítico aí, a partir de outubro do ano passado, que impediu a vacinação de milhões de pessoas num prazo anterior ao que começou. Infelizmente, somos o segundo país com maior número de óbitos e isso poderia ter sido amenizado”, afirmou Dimas.


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