Amanhã

Com Nise Yamaguchi, CPI da Covid investiga atuação do ‘gabinete paralelo’

Segundo o senador Rogério Carvalho (PT-SE), depoimento de Nise Yamaguchi vai ajudar a explicar o funcionamento de grupo contrário ao isolamento social e a favor da cloroquina

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Presidente da Anvisa disse à CPI que a médica Nise Yamaguchi sugeriu alternar a bula da hidroxicloroquina

São Paulo – A CPI da Covid retoma os trabalhos nesta terça-feira (1º), com o depoimento da médica infectologista Nise Yamaguchi. Ela é suspeita de integrar o chamado “gabinete paralelo” – composto por médicos, políticos e empresários – que orientava o presidente Jair Bolsonaro na condução da pandemia. Além disso, Nise também teria tentado alterar a bula da cloroquina, recomendando o uso do medicamento para tratamento da covid-19.

Quem relatou essa atuação foi o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, em depoimento à comissão. Nise Yamaguchi, no entanto, nega. Ela atribui ao tenente da Marinha Luciano Dias Azevedo a autoria da minuta do decreto que pretendia alterar as recomendações para o uso da droga.

“Amanhã vai ser o dia para começar a desvendar qual a importância, qual o papel e qual a corresponsabilidade dessas pessoas”, afirmou o senador Rogério Carvalho (PT-SE), integrante da CPI. Também participariam do chamado “gabinete paralelo” o deputado federal Osmar Terra, o virologista Paulo Zanotto e o empresário Carlos Wizard. E os trabalhos do grupo seriam coordenados por Arthur Weintraub, ex-assessor especial da Presidência e irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. A CPI já tem em mãos documentos entregues pela Casa Civil que confirmam a realização de ao menos 24 reuniões realizadas pelo grupo.

Em entrevista a Marilu Cabañas, no Jornal Brasil Atual desta segunda-feira (31), Carvalho afirma que essas pessoas se utilizaram da “fé pública” dispensada aos médicos para induzir o “tratamento miraculoso” com medicamentos ineficazes como a cloroquina, “quando a gente sabe que não tem nenhuma ação preventiva ou curativa, nem antirretroviral”. Segundo ele, o medicamento foi utilizado como “placebo”, dando à população uma falsa sensação de segurança diante do novo coronavírus.

Governadores

O senador também disse acreditar que o Supremo Tribunal Federal (STF) deve decidir pela inconstitucionalidade da convocação de nove governadores para que prestassem esclarecimentos à CPI da Covid. De acordo com Carvalho, trata-se de uma manobra dos governistas para tentar desviar o foco das investigações que recaem sobre o Planalto. No entanto, segundo o parlamentar, seria importante que governadores se dispusessem a falar “espontaneamente” à CPI, “para mostrar o quanto o trabalho deles foi obstruído pelo presidente Bolsonaro”.

29M, repressão e silenciamento

Para Carvalho, a população saiu às ruas no último sábado (29) para entoar um grito de “basta!” à negligência do governo Bolsonaro, quando o Brasil ultrapassa a marca de 460 mil mortos pela covid-19. “Quantas dessas mortes poderiam ter sido evitadas, se não fosse a atuação dolosa e temerária do governo e do seu gabinete paralelo?”.

Ele lamentou que, diante da gravidade da situação, os principais jornais do país não tenham dado destaque às manifestações. “Não foi uma manifestação desta ou daquela bandeira. Mas em torno de uma causa maior, que é a vida. Portanto, merecia destaque, porque é a vida que está em jogo.”

Por outro lado, os cenas de repressão a manifestantes registradas em Recife, causam preocupação, segundo o senador. Para ele, as forças de segurança têm sido ideologicamente “aparelhadas” pelo presidente. “Pareceu a reação de um grupo de adeptos ao presidente Bolsonaro que se sentiram irritados. E manifestaram sua irritação contra pessoas que não estavam agredindo ninguém, nem transgredindo nenhuma regra da livre expressão e da manifestação pacífica.”

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira