Futuro

Boulos anuncia querer disputar governo de São Paulo. Pesquisa indica avanço da esquerda no estado

Líder do Psol afirma estar animado para acabar com o “Tucanistão”, prega unidade do campo progressista contra Jair Bolsonaro e vê Lula como nome mais forte para 2022

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
"Muita gente me procurou depois das eleições de 2020, em que a gente teve mais de 2 milhões de votos", afirma Boulos, sobre a possibilidade de derrotar Bolsodoria

São Paulo – Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (Psol) estão hoje entre os candidatos mais fortes à disputa para o governo do estado de São Paulo nas eleições de 2022. Pesquisa do Instituto Ipespe e jornal Valor, divulgada na quinta-feira (8), mostra o ex-prefeito da capital e ex-ministro da Educação do governo Luiz Inácio Lula da Silva na liderança. Haddad soma 20% das intenções de voto, à frente dos ex-governadores Márcio França (PSB), com 18%, e Geraldo Alckmin (PSDB), que tem 17%. Diante da margem de erro de 3,2 pontos percentuais, para mais ou para menos, os três estão em empate técnico.

Mas se Haddad não está na disputa, quem lidera, também em empate técnico com outros possíveis candidatos, é Boulos. O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) soma 16% das intenções de voto. Nesse cenário, França e Alckmin ficam com 17% das intenções de voto cada. Boulos chegou ao segundo turno da eleição para a prefeitura de São Paulo, em 2018.

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Esses resultados parecem ter animado Guilherme Boulos. Em entrevista à coluna da jornalista Mônica Bergamo, nesta terça-feira (13), Boulos afirmou estar “disposto a assumir o desafio de disputar o Governo de São Paulo em 2022” e acabar com o “Tucanistão”, conforme se refere aos mais de 20 anos do PSDB à frente do governo estadual. “Já deu. Tem um cansaço, um desgaste do PSDB com essa mesmice tucana governando o estado há mais de 30 anos. Uma capitania hereditária com histórico de roubalheira, máfia da merenda, do metrô, do Rodoanel.”

Boulos pregou, ainda, a unidade do campo progressista contra Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais do próximo ano. E reconhece em Lula o nome mais forte para disputar a sucessão presidencial em 2022.

Sair do pesadelo

“O maior desafio que a gente tem hoje é tirar o Brasil desse pesadelo”, disse Boulos na entrevista. “O Brasil virou o cemitério do mundo. Nós temos um genocídio deliberado. É devastador a gente ver 4 mil pessoas morrendo por dia, ver colapso na saúde sabendo que a gente só não está pior do que isso por causa do SUS, por causa de milhares de profissionais de saúde se arriscando todos os dias. E por causa dos freios que, de algum modo, algumas instituições estão colocando ao [presidente Jair] Bolsonaro”, ressaltou.

“Nós estamos vivendo também uma pandemia da fome. São quase 20 milhões de brasileiros com fome, desemprego estourando, bujão de gás a R$ 100, inflação de alimentos. E nesse contexto o Bolsonaro corta o auxílio emergencial”, criticou, destacando um dos projetos do MTST, ao qual tem se dedicado: as cozinhas solidárias. “Viajei para Planaltina, no Distrito Federal, para Roraima, no extremo norte [do país] para inaugurar essas cozinhas, para combater a fome, para dar visibilidade a esse problema.”

Guilherme Boulos defendeu a instalação da CPI da Covid. “Se for séria, ela vai apontar crimes de responsabilidade do Bolsonaro ao ter negado a vacina, ter boicotado medidas de isolamento sanitário. E pode ser o primeiro passo para o impeachment. Não dá para simplesmente esperarmos [a eleição de] 2022.”

Questionado sobre os danos do que seria um terceiro impeachment na história recente do Brasil, o líder do Psol retrucou. “Se nós olharmos, o Bolsonaro fez coisas muito mais graves do que o [ex-presidente Fernando] Color [que sofreu impeachment em 1993]. A Dilma [Rousseff] não cometeu crime e foi ‘impeachmada.’ É evidente que queremos estabilidade para a democracia brasileira. Agora, é possível estabilidade com um genocida no poder? É possível estabilidade democrática com alguém que defende ditadura militar e tortura? Eu acredito que não.”

Unidade contra Bolsodoria

Boulos voltou a defender a unidade nacional do campo progressista na disputa ao governo federal. “Temos que ver qual é o nome que vai ter melhores condições de derrotar o Bolsonaro em 2022. Se for o do Lula… hoje é. Estamos a um ano e meio da eleição. É evidente que a unidade tem que ser construída em torno do nome com melhores condições de derrotar o Bolsonaro. Mas também em torno de um projeto.”

Lembrando que a decisão sobre a candidatura para 2022 será do Psol, em congresso marcado para o segundo semestre, Boulos reforçou. “O nosso foco tem que ser derrotar o bolsonarismo e apresentar um projeto de reconstrução nacional. Isso passa por um debate de um projeto nacional. Unidade se constrói com gestos dos dois lados. Unidade é uma via de mão dupla.”

Para Boulos, derrotar o “BolsoDoria” (slogan utilizado pelo então candidato João Doria na disputa ao Governo de São Paulo em 2018) também é muito importante. “E muita gente me procurou depois das eleições de 2020, em que a gente teve mais de 2 milhões de votos. Lideranças partidárias, lideranças sociais, colocam esse debate sobre uma candidatura ao governo do estado. Tenho visto pesquisas que nos colocam inclusive em primeiro lugar, em empate técnico com outros candidatos. Preciso fazer naturalmente esse debate com o meu partido. Mas eu estou disposto a assumir o desafio de disputar o Governo de São Paulo em 2022. E construindo uma unidade dos progressistas. Sem unidade é muito difícil derrotar a máquina do PSDB.”