Em disputa

Com medo de Lula, Bolsonaro acena a evangélicos radicais, diz Coimbra

Presidente do Instituto Vox Populi diz que Bolsonaro e seu entorno buscam “ativar” eleitorado evangélico mais radical para garantir ida ao segundo turno contra Lula

Isac Nóbrega/PR
Isac Nóbrega/PR
Receio da volta do PT também é obstáculo para partidos da direita tradicional buscarem nome alternativo à Bolsonaro

São Paulo – De acordo com o sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, a decisão liminar do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), que liberou a realização de cultos e missas presenciais durante a pandemia, é um aceno de Jair Bolsonaro aos setores evangélicos neopentecostais mais radicais. Nunes Marques foi o primeiro nomeado pelo presidente para a Suprema Corte. A entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa eleitoral, segundo Coimbra, é o principal motivo dessa decisão que busca fortalecer a aliança de Bolsonaro com os evangélicos.

“O medo que Bolsonaro tem do Lula está fazendo é ele procurar reforçar a sua turma. E essas igrejas neopentecostais são uma das coisas que ele pensa que vai precisar para se garantir no segundo turno”, disse Coimbra, no programa Café da Manhã, do Diário do Centro do Mundo, nesta segunda- feira (5).

Da mesma forma, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) lamentou a atitude “autoritária” de Nunes Marques. Ele espera que a sua decisão seja revista pelo plenário do STF. ” Infelizmente, essas igrejas neopentecostais mais radicais têm agido não como igrejas, mas como empresas. E, ao mesmo tempo, como coletora de votos, elegendo pessoas terrivelmente reacionárias”, declarou.

Ele citou que, enquanto o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, virou alvo das milícias digitais bolsonaristas, após dizer que não acataria a decisão de Nunes Marques, pelo menos 151 pessoas contaminadas pela covid-19 em estado grave aguardavam na fila por um leito de UTI.

Com a redução do ritmo da vacinação e as ações do governo federal que sabotam o enfrentamento da pandemia, o Brasil virou um “covidário”, de acordo com o deputado, por conta do risco do surgimento de novas variantes da covid-19, possivelmente resistentes aos imunizantes.

Lula cresce, Bolsonaro derrete

A pouco mais de um ano do início oficial da disputa eleitoral de 2022, Coimbra afirmou que a tendência é de enfraquecimento progressivo de Bolsonaro. Por outro lado, Lula deve ser fortalecer. “A tendência do Lula é, na pior das hipóteses, é ficar aonde está. E a tendência do Bolsonaro, na melhor das hipóteses, é cair pouco. Porque ele vai cair. E o Lula muito provavelmente vai melhorar um pouco.”

Para a perspectiva de piora gradativa na avaliação do atual presidente, o sociólogo aponta a atuação “lastimável” do governo em todas as áreas. A negligência no combate à pandemia, por exemplo, deve prolongar o drama da doença. Com isso, não é possível apostar numa recuperação econômica no curto prazo.

Por outro lado, sobre Lula, Coimbra diz que não há nada de novo contra ele. Pelo contrário, com os direitos políticos recuperados, poderá se reencontrar com o eleitorado, se apresentando aos jovens que não o conhecem direito e podendo se explicar aos demais.

Evangélicos em disputa

Apesar da tentativa desesperada de Bolsonaro blindar o apoio dos líderes das igrejas neopentecostais, Coimbra lembra que uma grande parcela do eleitorado petista também foi e ainda é evangélica. De acordo com ele, diante das crises econômica e social agravadas pela pandemia, essa parcela do eleitorado pode fazer uma inflexão em direção a Lula e ao PT.

“Para muitas dessas pessoas, é um reencontro, não é uma viagem ao desconhecido. E a maior parte delas tem lembranças positivas do que foram os governos do PT”, declarou o sociólogo. Essa visão também é corroborada por Correia. O parlamentar acredita que o voto evangélico está em disputa, contudo, lamenta que a pandemia tenha se tornado um empecilho para que as forças populares possam ir às ruas fazer a disputa política.

Terceira via?

Sobre a possibilidade do surgimento de um nome da direita tradicional, Coimbra diz que a melhor alternativa seria que os partidos desse campo passassem a apoiar abertamente o impeachment de Bolsonaro. Contudo, é também o medo de Lula que os impede de tomar esse caminho, segundo o analista. “Eles criaram um monstro que atrapalha a renovação da direita. Mas eles não conseguem abrir mão desse monstro, porque no fundo eles tem medo de que essa turma seja muito ‘fraquinha’.”