Buraco do inferno

Bolsonaro vai a Chapecó celebrar ‘tratamento precoce’. E UTIs 100% lotadas

Editorial do “The Guardian” afirma que Bolsonaro é “perigo para o Brasil e o mundo” e cita ex-dirigente colombiano: “Fez do Brasil gigantesco buraco do inferno”

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The Guardian lembra histórico de Bolsonaro de homofobia e hostilidade a mulheres e de elogios à a tortura. “Pesadelo se revelou ainda pior na realidade”

São Paulo – Jair Bolsonaro disse nesta segunda (5) que visitará esta semana Chapecó (SC) para parabenizar a gestão do prefeito João Rodrigues (PSD) pelo “trabalho excepcional”. O que o presidente da República chama de trabalho excepcional é a liberdade dos médicos para executar o chamado “tratamento precoce” com uso de drogas ineficazes contra a covid-19. A cidade, segundo boletim da própria administração, tem 100% de seus leitos de UTI ocupados por pacientes de covid-19. Em rede social, Bolsonaro disse a governadores e prefeitos para “não ter medo” e “ouvir o prefeito, um exemplo a ser seguido, por isso estou indo lá”.

O presidente é um propagador do uso de remédios como cloroquina, azitromicina e ivermectina, que além de ineficazes, podem causar danos à saúde de pacientes. O elogio de Bolsonaro ao prefeito de Chapecó ocorre no mesmo dia em que o jornal britânico The Guardian afirma, em editorial, que o dirigente brasileiro de “extrema direita é um perigo para o Brasil e o para o mundo”. O texto cita mensagem distribuída recentemente pelo ex-presidente colombiano Ernesto Samper – “Bolsonaro conseguiu transformar o Brasil em um gigantesco buraco do inferno”. Samper se referiu no Twitter à disseminação da variante P1 pelo Brasil, mais contagiosa, e que está colocando em perigo outros países.

The Guardian: Bolsonaro, gestão desatrosa

O editorial do The Guardian lembra o histórico de Bolsonaro de homofobia e hostilidade a mulheres e minorias, de elogios ao autoritarismo e a tortura. E assinala que “o pesadelo se revelou ainda pior na realidade”. O texto destaca que “ele permitiu que o coronavírus se alastrasse sem controle, atacando as restrições de movimento, máscaras e vacinas”. O Brasil já ostenta média diária acima de 2.500 mortes há semanas.


Lula lidera sucessão. Avaliação negativa de Bolsonaro dispara


“Sua gestão desastrosa com a covid-19 parece estar causando dúvidas entre a elite econômica que anteriormente o abraçava. Algumas partes dos militares aparentemente compartilham desse mal-estar”, observa o The Guardian sobre a situação política de Bolsonaro, que menciona o crescimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas e a movimentação das forças de centro e de direita. “A possibilidade do retorno de Lula é suficiente para concentrar mentes da direita em encontrar um candidato alternativo, menos extremista do que Bolsonaro.”

Cloroquina e morte no RS

O mau uso de medicamento sem eficácia comprovada levou a família do aposentado Lourenço Pereira, de 69 anos, a acionar a Justiça por não ter sido consultada sobre o uso de nebulização com hidroxicloroquina para o tratamento de covid-19 do paciente. Isso porque Lourenço morreu no último dia 22 de março dois dias depois de receber o medicamento no Hospital de Caridade de Alecrim.

Sua filha, Eliziane Pereira, 32 anos, conta que a família não foi comunicada nem consultada sobre o tratamento. Ela conta que Lourenço foi internado sem a presença de nenhum familiar. “Não tivemos nenhuma informação do quadro do meu pai quando ele internou. O que o médico falou, ele mesmo nos repassou no dia 19”, disse, segundo o Estadão. Lourenço era semianalfabeto e segundo Eliziane sabia apenas escrever o próprio nome. A conduta médica, ela denuncia, “não nos foi repassada”. Os familiares de Lourenço acionaram o Ministério Público (MP), que vai requisitar abertura do inquérito policial.


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