Inclusão social

Lula radical? ‘Do que o mercado tem medo?’, pergunta ex-presidente

Ex-presidente diz que dará ênfase ao investimento produtivo e ao emprego, e afirma que “muita coisa” pode mudar na Petrobras. Também critica autonomia do BC

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
"O jornal deixou de noticiar muito do que havia naquele material, mas segue publicizando, de forma acrítica, acusações sem base legal contra o ex-presidente", diz assessoria de Lula sobre a Folha de S. Paulo

São Paulo – Na última parte de sua entrevista coletiva, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, nesta quarta-feira (10), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou falar em candidatura para as eleições de 2022. “Nós vamos discutir se vai ter candidato de frente ampla, se vai ter um candidato do PT, mas aí é mais para frente. Nós temos muita coisa para fazer antes de pensar em nós mesmos”, afirmou. Mas deixou brechas ao falar da reação do chamado “mercado” à notícia de que havia recuperado seus direitos políticos.

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Não chega a ser novidade, como o próprio Lula comentou, citando manchete do extinto Jornal da Tarde em 1989, à véspera do segundo turno (“O dólar explode: foi Lula”). Foi assim também em 2002, quando ele despontava como favorito. “Esse mercado já conviveu oito anos no governo meu e seis com a Dilma… Do que o mercado tem medo?”, questionou.

Ganhando com especulação

Para o ex-presidente, “tem muito economista mentindo na televisão para ganhar dinheiro com especulação”. Ele afirmou que em seu governo as ações eram feitas “à luz do dia”. “A gente tinha credibilidade e previsibilidade”, acrescentou, citando conceitos caros ao “dito” mercado.

Ao mesmo tempo, Lula listou fatores de possível “receio” do sistema financeiro. “O mercado quer ganhar dinheiro vendo o povo virar consumidor nesse país? Tem que votar em mim. Agora, se quiser ver, às minhas custas, a entrega da soberania nacional, não votem em mim, tenham medo mesmo. Porque nós não vamos privatizar. E quem tiver comprando coisas da Petrobras está correndo risco, porque a gente podemos mudar muita coisa” afirmou. Ele também se posicionou contra a “independência” do Banco Central, aprovada recentemente. “É melhor o BC estar na mão do governo do que do mercado.”

Investimento produtivo e emprego

Lula disse que não vai liberar armas, mas “distribuir livros”. “Nós vamos levar muito a sério investimento produtivo, geração de emprego”, afirmou ainda. Falar em “radicalização”, para ele, é coisa de “tucano enrustido”. Ou “medo da inclusão social”. O ex-presidente também criticou empresários que, segundo ele, não investiram no emprego o dinheiro da desoneração.

Ele não mostrou preocupação com a carta do Clube Militar contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas disse ter ficado preocupado com a mensagem do general Villas Bôas, pressionando a Corte. “Porque não é correto que o comandante das Forças Armadas faça o que fez. Ele não está lá para dar palpite na política, ele não está lá para decidir quem vai ser presidente ou não, reagiu.

Relação com militares

Lula ressaltou o investimento feito nas Forças Armadas durante sua gestão e enfatizou o papel constitucional do setor, para defender o país contra inimigos externos e não “ficar se metendo na saúde”. “Tenho profundo respeito pela instituição”, disse o ex-presidente, dizendo ter tido uma “relação extraordinária” durante os oito anos de seus mandato. “É plenamente possível a gente estabelecer uma relação democrática, civilizada”, pontuou.

Ele foi cauteloso ao responder uma pergunta em que a repórter citou elogios do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara, que comparou positivamente Lula em relação a Jair Bolsonaro – a quem chamou de “acidente da história”. Disse que conversará com todos os que estiverem dispostos ao diálogo. “Eu vou viver o meu ‘novo normal’ fazendo o que eu sei fazer, conversar”, afirmou Lula. Justamente o contrário do atual, segundo ele: “Um presidente da República tem que conversar com os sindicalistas, tem que conversar com os empresários”.

Durante a entrevista, houve tempo para uma ironia em relação ao empresário e apresentador Luciano Huck, que afirmou, sem citar nomes, que “figurinha repetida não completa álbum”. “Uma figurinha carimbada vale pelo álbum inteiro”, brincou Lula.

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