Atitudes inclassificáveis

‘Frescura? Mimimi? Inacreditável!’ Fala de Bolsonaro sobre a pandemia aumenta indignação

“O que faz o PGR Augusto Aras contra atos de Bolsonaro? Nada”, questiona o advogado e ex-deputado Wadih Damous. Cineasta Petra Costa responde a presidente: “Vamos parar de chorar quando nossa gente parar de morrer!”

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
Declarações insensatas e criminosas como as que Bolsonaro deu hoje, e que atingem diretamente milhões de brasileiros, são recorrentes desde o início de seu mandato

São Paulo – “Que Bolsonaro já praticou uma série de crimes desde que tomou posse, todo mundo sabe. Crime comum, crime de responsabilidade… Praticou crimes e continua praticando. Mas quem pratica crimes não tem que responder pelos seus atos? Tem. Só que o procurador-geral da República, o Augusto Aras, não o processa. O que ele faz em relação a isso? Nada. A Câmara, ainda mais agora com Arthur Lira, não vai pautar impeachment. E se pautar, perde.” Assim o advogado e ex-deputado federal Wadih Damous comenta – e lamenta – a inação da Procuradoria-Geral da República (PGR) ante as atitudes do presidente Jair Bolsonaro em relação à pandemia de covid-19, que nunca matou ou infectou tantas pessoas no Brasil como no momento atual.

Nesta quinta-feira (4), o presidente voltou a demonstrar irracionalidade, e a agredir o bom senso e a ciência. Além disso, desafiou o esforço dos governadores dos estados brasileiros, que lutam para encontrar soluções que minimizem a tragédia do país.

“Chega de frescura e mimimi. Vão ficar chorando até quando?”, disse o presidente brasileiro nesta quinta, ao se manifestar sobre as políticas de isolamento e restrições de governos estaduais para conter o avanço da contaminação. Pior do que isso, aparentando estar fora de si, protestou contra as vacinas. “Tem idiota que a gente vê nas redes sociais, na imprensa, ‘vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe”, declarou.

Fora de si

O Brasil é hoje uma preocupação da Organização Mundial da Saúde e de países civilizados de todo o mundo. “A crise da Covid no Brasil é um alerta para o mundo inteiro, dizem os cientistas”, estampou o jornal The New York Times na quarta (3).

O fato de o mandatário brasileiro continuar com apoio de cerca de 30% da população, segundo as pesquisas, pode ser difícil de aceitar. Mas, para Damous, com esse cenário, o presidente pode sim sonhar em se sustentar até o segundo turno da eleição de 2022.

Wadih Damous observa que as declarações insensatas e “criminosas” como essas são recorrentes desde o início de seu mandato. “Isso é crime? É. É o presidente da República dizendo às pessoas para não se cuidarem. E qual é a consequência disso? Nenhuma.” A pedidos de partidos e parlamentares, os ministros Marco Aurélio Mello, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, já enviaram noticias-crime contra Bolsonaro à PGR. Todas, até o momento, sem respostas.

Flávio Dino: “É inacreditável”

Sobre a declaração em que o chefe de governo brasileiro menciona a mãe de “idiota que a gente vê nas redes sociais”, o governador do Maranhão, Flávio Dino, posta esse trecho do vídeo em seu Twitter e comenta: “Esse senhor tem o dever de respeitar as mães do Brasil, as famílias das vítimas, os pacientes internados e os profissionais de saúde. Seria prova de decoro mínimo para exercer o cargo mais elevado da nossa Nação. Chega a ser inacreditável”, escreveu.

Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), o comportamento de Bolsonaro hoje é “repugnante” “São quase 260 mil mortos, estamos chegando em 2 mil óbitos diários. A pandemia está em completo descontrole. O que o Presidente da República tem a dizer aos brasileiros e às famílias de luto? ‘Chega de frescura e de mi-mi-mi. BOLSONARO É DESUMANO. É UM MONSTRO!”, disse o parlamentar no Twitter.

Indignação

As falas do presidente de hoje entram para a galeria que mostra com clareza que o presidente, desde o início do surto, desdenha da vida dos brasileiros, rejeita a ciência, ataca vacinas e dissemina mentiras sobre medidas protetivas contra a covid. “O Brasil chora recorde de mortos, vetos que evitam a vacinação, cortes na saúde e do auxílio emergencial. Mas chorando ou não, lutaremos para barrar este genocida”, disse o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), à RBA.

Também a cineasta Petra Costa, que concorreu ao Oscar de 2020, por Democracia e Vertigem, postou: “Frescura? Mimimi? Quase 2 mil mortos em um dia! Mais de 250 mil desde que o senhor decidiu combater a ciência, a máscara, a vacina, boicotar a saúde pública e fazer propaganda de falso remédio. Vamos parar de chorar quando nossa gente parar de morrer!”.

Por usa vez, a ex-senadora Marina Silva (Rede) lembrou o luto das famílias para comentar o desdém de Bolsonaro pela vida dos brasileiros. “Vamos ficar chorando até quando? Como determinar o tempo de parar de sentir saudade e de chorar pela morte de um filho, uma filha, de uma mãe, de pais das pessoas a que amamos e gostamos? Sabe porque o senhor quer que a gente esqueça e paremos de chorar os nossos mortos? É porque o senhor sabe muito bem que tem culpa no cartório na maior parte desses obituários”, disse.

Bolsonaro na base

Segundo pesquisa divulgada ontem pelo instituto Inteligência, Pesquisa e Consultoria (IPEC), realizada entre 18 e 23 de fevereiro e divulgada hoje pelo jornal O Globo, Bolsonaro aparece com aprovação (ótimo ou bom) abaixo de 30%, mas ainda em patamar de 28%, contra 39% que avaliam como ruim ou péssima.

Colaborou Gabriel ValeryEdição Fábio M Michel


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