Horizonte eleitoral

‘Direita moderada’ e Bolsonaro dividirão disputa por vaga no segundo turno contra Lula, diz analista

Com Lula “moderado” ocupando o centro da disputa, cientista político Cláudio Couto (FGV) prevê disputa “renhida” entre a centro-direita e a extrema-direita nas eleições do ano que vem, com risco de Bolsonaro não passar do primeiro turno

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Diante do aprofundamento do desgaste, analista diz que "é possível" que Bolsonaro não vá ao segundo turno em 2022

São Paulo – O crescente desgaste do presidente Jair Bolsonaro, em função do colapso da pandemia e da gestão desastrada na economia, entre outros fatores, revela que seu futuro eleitoral na disputa de 2022 parece cada vez mais incerto. Com isso, os partidos da centro-direita – a chamada “direita moderada”, em oposição à extrema direita liderada por Bolsonaro – buscam um nome que possa vir a ocupar o espaço deixado pelo esvaziamento do atual presidente.

De acordo com o cientista político Cláudio Couto, professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao centro do jogo político deve tornar ainda mais “renhida” a disputa no campo conservador por uma vaga no segundo turno nas eleições presidenciais do ano que vem.

Em seu primeiro pronunciamento após terem sido anuladas as condenações impostas pela Lava Jato, Lula fez um discurso considerado “moderado”, segundo Couto. Com acenos a diversos setores da sociedade, o líder petista “lançou pontes” e sinalizou disposição ao diálogo. A consequência disso, segundo o cientista político, é que diminuiu o espaço para candidaturas que se apresentem como “centristas”.

Em função disso, Couto acredita que a viabilidade de um candidato da centro-direita vai depender da “corrosão” da base de apoio de Bolsonaro. “Esse representante da centro-direita só vai prosperar se houver uma corrosão muito grande da popularidade de Bolsonaro. Se ele perder sustentação política, uma parte do eleitorado – os 30% que ainda consideram o governo bom ou ótimo – pode ser levada para essa candidatura mais moderada”, disse Couto, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (11).

Incógnita

“Acho possível, diante do desgaste, que Bolsonaro não vá para o segundo turno. E, assim, tenhamos uma disputa entre Lula e um candidato da centro-direita. Mas não sei se vai se viabilizar. Estou apenas dizendo que a política comporta essa possibilidade, diante da forma como os processos vem ocorrendo”, acrescentou. Ele lembrou que grande parte dos votos destinados a Bolsonaro nas últimas eleições anteriormente eram direcionados a esse campo da centro-direita, especialmente às candidaturas do PSDB.

O desafio maior, segundo ele, nem é o provável desgaste do atual presidente. Mas que as forças políticas desse campo consigam encontrar um nome com capacidade eleitoral para superá-lo. O governador de São Paulo, João Doria, encontra resistência de outros políticos importantes, inclusive dentro do seu próprio partido. Por outro lado, o apresentador Luciano Huck parece indeciso entre disputar à presidência ou ocupar o espaço deixado por Fausto Silva. O titular das tardes de domingo anunciou sua saída da Rede Globo a partir do ano que vem.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima