Da Rússia, com amor

Com Ministério da Saúde sem comando, governadores do Nordeste trazem vacina Sputnik V ao país

Laboratórios brasileiros fazem sua parte: Fiocruz promete entregar 20 milhões de doses da vacina AstraZeneca-Oxford por mês e Butantã pretende completar 100 milhões da CoronaVac até agosto

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Consórcio do Nordeste iniciou negociações para a aquisição de 37 milhões de doses da vacina russa

São Paulo – Os governadores da região Nordeste estão anunciando contratos para a aquisição de vacinas contra a covid-19 de um total de 37 milhões de doses da russa Sputnik V, a serem divididas entre os estados. As negociações para a compra do imunizante – utilizado em cerca de 40 países, incluindo a Argentina – foram iniciadas pelo Consórcio do Nordeste (leia aqui), mas os contratos legalmente têm de ser assinados pelos governos.

Nas redes sociais, nesta quarta (17), o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), anunciou a assinatura do contrato para aquisição de 4,582 milhões de doses da Sputnik V (“vê”, de vacina). Ele afirmou que a iniciativa mostra o compromisso de seu governo com o Plano Nacional de Imunização (PNI), legalmente conduzido pelo Ministério da Saúde.

Prioridades

Flavio Dino ressalta que a obrigação do governo do estado é informar o Ministério da Saúde, para que ele exerça, se quiser, o direito legal de preferência para incorporar as doses ao PNI. Até o momento, a vacina usada no Maranhão é a CoronaVac, da farmacêutica chinesa Sinovac. “Se o Ministério da Saúde não vai utilizar (a Sputnik V), vamos receber as vacinas”, disse Dino.

Ele afirmou vai “colocar a educação como prioridade” na vacinação do estado. O contrato prevê a entrega das doses por etapas, a partir de abril, até julho. Dino disse também  que a compra das doses é a colaboração do Maranhão “para que a fila de vacinação ande mais rapidamente, porque é um imperativo nacional” e pediu diálogo com o Ministério.

“Nenhum governo vai vencer essa doença sozinho. Só é possível superar a pandemia se cada pessoa, família, empresa, cada um de nós for agente de proteção, de cuidado”, escreveu no Twitter o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB). Ele decretou quarentena em todo o estado, a partir desta quinta-feira (18), até 28 de março. Isso porque a taxa de ocupação de UTIs em Pernambuco supera os 95%. No período, só serão autorizadas atividades essenciais.

Já o governador de São Paulo, cuja gestão também encaminha o estado ao colapso do sistema de saúde , cobrou o presidente Bolsonaro e o Ministério da Saúde: “precisa providenciar mais vacinas. Onde está a avalanche de vacinas prometida pelo governo federal?”, escreveu João Doria no Twitter.

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Ciência faz sua parte

Enquanto os governadores, em especial os do Nordeste, tentam superar a inoperância do governo de Jair Bolsonaro, os laboratórios brasileiros, estatais, fazem sua parte. A Fiocruz entregou hoje (17) ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) as primeiras 500 mil doses da vacina Oxford/AstraZeneca fabricadas na unidade Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro. Outras 580 mil serão entregues até sexta-feira (19). Segundo a instituição, até o fim de março serão entregues 3,8 milhões de doses. Com a entrada em operação da segunda linha de produção, a presidenta da Fiocruz, Nísia Trindade, disse que, a partir de abril, serão entregues cerca de 20 milhões de doses por mês.

Por sua vez, o Instituto Butantan liberou, também hoje, 2 milhões de doses da CoronaVac ao Plano Nacional de Imunização. A instituição do governo de São Paulo já enviou 22,6 milhões das 46 milhões previstas. Até o final de agosto, a expectativa é que o Butantã terá disponibilizado um total de 100 milhões de doses da vacina chinesa.

Também nesta quarta, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se reuniu com representantes do laboratório União Química, que vai produzir a Sputnik V no país. O pedido de autorização de uso emergencial do imunizante desenvolvido pela Rússia está paralisado há dois meses, por falta de documentação, segundo a agência.

Até agora foram vacinados contra a covid-19, com ao menos uma dose, apenas 12 milhões de pessoas no país. No mês passado, atendendo a pedido do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Supremo Tribunal Federal autorizou que estados e municípios comprem vacinas contra a covid-19.

Sem ministro

Enquanto os chefes de executivos estaduais se mobilizam, o país está virtualmente sem ministro da Saúde no auge da pandemia. O futuro chefe da pasta, o médico Marcelo Queiroga, ainda não foi empossado no lugar do demissionário general Eduardo Pazuello.  

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“Temos pela frente uma transição do cargo de ministro que é apenas uma continuidade do trabalho”, disse o militar hoje. Sua gestão no ministério foi catastrófica e marcada pela inação. Pazuello acrescentou que Queiroga “reza pela mesma cartilha” que ele mesmo seguiu.

Na terça-feira (16), antes mesmo da confirmação de Marcelo Queiroga para ocupar deixado por Pazuello, o Senado aprovou um convite para que o ainda futuro ministro explique as prioridades da pasta no combate à pandemia. A Comissão Temporária Covid-19 vai se reunir com os presidentes do Instituto Butantan, Dimas Covas, e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, para debater a produção de vacinas no Brasil.


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