Na clandestinidade

Procuradores da Lava Jato anteciparam delatores da Odebrecht ao MP da Suíça

Troca de mensagens mostra que cooperação internacional entre os procuradores ocorreu fora dos canais oficiais. Deltan Dallagnol ainda fez consulta sobre as penas aplicadas aos delatores

José Cruz/EBC
José Cruz/EBC
Mensagens revelam que a relação entre a força-tarefa da Lava Jato com o MP suíço era frequente

São Paulo – Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato repassaram ao Ministério Público da Suíça informações confidenciais fora dos canais oficiais. É o que mostra reportagem do correspondente do UOL Jamil Chade, publicada nesta segunda-feira (8). De acordo com o jornalista, sem que houvesse qualquer acordo de cooperação internacional, nomes da cúpula da empreiteira Odebrecht, suspeitos de envolvimento em casos de corrupção, foram repassados aos suíços meses antes do acordo de delação premiada ser fechado. 

A cooperação ilegal foi identificada nas trocas de mensagens entre os procuradores no aplicativo Telegram. As conversas tiveram sigilo levantado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski. No chat, batizado de “Acordo Ode”, os procuradores do MPF e membros da Procuradoria-Geral da República (PGR) discutiam os termos do que viria a ser o acordo de leniência da Odebrecht. Assim como as negociações da empreiteira com os Estados Unidos e a Suíça. 

O período dos diálogos é de março de 2016 a setembro de 2017. O que corresponde à data anterior a que o acordo foi firmado, em dezembro de 2016. Numa das mensagens enviadas em 19 de setembro daquele ano, o procurador Orlando Martello comenta “pessoal, passei a lista com os nomes dos possíveis nomes para o acordo com o Stefan (in off)”, como revela a coluna. O nome citado é do procurador suíço Stefan Lenz, que liderava investigações contra a Petrobras e a Odebrecht no país. Na conversa, o suíço se queixou de que na lista enviada pela Lava Jato “faltavam alguns nomes”.

Dallagnol consultou penas

De acordo com o colunista, um mês após os comentários de Lenz, o coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol, consultou os procuradores no chat sobre o repasse a “americanos e suíços de planilha com as penas dos delatores com a condição de manterem confidencial”. As conversas ainda expõem que a relação entre a força-tarefa com o MP suíço era frequente. Em 20 de abril de 2016, Dallagnol escreveu no grupo que Lenz “recomendava que a Odebrecht mudasse de advogado”. 

A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva questiona na Justiça a relação entre os dois países. E argumenta que as informações configuram “quebra da cadeia de custódia relacionada aos sistemas da Odebrecht”. “A busca selvagem e a lavagem de provas pelos órgãos de persecução, com a ciência e anuência do juízo de piso”, acrescentam. A cooperação internacional entre os procuradores, sem qualquer acordo, pode levar à anulação de provas. 


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