CPI já

Parlamentares querem nomes dos financiadores estrangeiros de ataques à democracia brasileira

Ministro Dias Toffoli revelou, durante programa de TV, que inquérito sobre fake news identificou financiamento estrangeiro de campanhas de ataques virtuais à democracia e instituições brasileiras

Arte: Bruno Fonseca/Agência Pública - Foto: Site Piloto Policial
Arte: Bruno Fonseca/Agência Pública - Foto: Site Piloto Policial
A agente especial Leslie R. Backschies (segunda à esquerda) esteve várias vezes no Brasil, designada pelo FBI

São Paulo – Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE) a importância da instalação de uma CPI da Lava Jato, pela qual iniciou o processo de recolhimento de assinaturas no dia 9 deste mês, ficou mais clara após a confirmação – pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal – de que houve financiamento internacional para campanhas de ataques nas redes sociais instituições e a democracia brasileiras. O magistrado deu a informação em entrevista na noite deste domingo (21) ao Canal Livre, da Band. De acordo com o ministro, tais financiamentos visavam desestabilizar “em especial” o STF e o Congresso Nacional.

Os ataques à democracia e fake news estão sendo investigados pelo STF em inquérito conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, que na semana passada mandou prender o deputado Daniel Silveira. As fake news também são objeto de CPMI no Congresso, mas a acomissão pode ser encerrada sem atingir os resultados esperados.

“Já tínhamos denúncia sobre esse financiamento externo, e agora pelo visto vão aparecer as provas, que vão jogar luz sobre um questionamento não só em relação às fake news, como também sobre a Lava Jato. Precisamos apurar quem são financiadores e financiados, quem está por trás, quais os interesses, e trazer essas pessoas para o centro do debate”, diz Carvalho.

“Colaborações”

A força tarefa sediada em Curitiba e comandada pelo ex-juiz Sergio Moro “trouxe ao Brasil agentes do FBI, da CIA, do serviço secreto inglês. Estamos apresentando uma proposta de CPI para apurar essas coisas”, defende o senador.

Para ele, uma comissão parlamentar de inquérito precisa focar principalmente acordos de leniência da Lava Jato e a colaboração de órgãos internacionais. “Sabemos que os agentes externos vieram, e que os procuradores da força tarefa foram para lá. Mas precisamos entender os detalhes dessas relações, a convivência com esses agentes e os acordos com esses organismos, que não passaram por órgãos formais e dos quais não há registro no Ministério da Justiça.”

“Democracia sitiada”

No Twitter, parlamentares comentaram a fala de Toffoli. Para o deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ), “a democracia está sendo sitiada”. A revelação “de que redes bolsonaristas receberam $ estrangeiro p/ promover atos golpistas é um grave ataque à soberania c/ objetivo de subverter o regime democrático. Financiadores e operadores têm que ser identificados e punidos”, escreveu (a grafia da postagem original foi mantida). A deputada Jandira Feghali classificou de “gravíssimo o alerta” de Toffoli, sobre os ataques à democracia financiada por entidades estrangeiras.

Algumas informações sobre a parceria de instituições brasileiras, a Lava Jato e organismos internacionais já vieram à luz. Por exemplo, a de que a agente especial Leslie R. Backschies esteve várias vezes no Brasil, designada pelo FBI em 2014 para colaborar com as operações de Curitiba. A revelação foi feita em reportagem do site Conjur, sobre evento do escritório de advocacia CKR Law em São Paulo, em fevereiro de 2018, do qual Leslie participou.

Diálogos analisados pela Agência Pública em parceria com o The Intercept Brasil revelaram o interesse de agentes do FBI e do Departamento de Justiça americano (DoJ) nas investigações relacionadas à Operação Triplo X, cujo nome se relaciona às suspeitas de que o chamado tríplex do Guarujá pertencia ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os alvos da Triplo X eram o apartamento e a empresa offshore Mossack Fonseca. Segundo diálogo no Telegram, a Polícia Federal (PF) foi procurada pelo FBI um mês antes de a operação ser deflagrada, em dezembro de 2015.