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Lira fala em conciliação, mas tenta se impor pela força, diz analista

Na prática, novo presidente da Câmara quer o controle total dos cargos da Mesa Diretora, de acordo com o cientista político Cláudio Couto (FGV)

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
O deputado Arthur Lira é eleito presidente da Câmara dos Deputados.

São Paulo – Os 302 votos que deram a vitória ao deputado Arthur Lira (PP-AL) como novo presidente da Câmara são resultado do acúmulo de poder dos partidos do Centrão, que não vem de hoje. Em seu primeiro discurso como vencedor, Lira prometeu uma direção “coletiva”, respeitando as diversas forças representadas no Parlamento. Mas, na prática, o que se viu foi bem diferente. Como primeiro ato, Lira cancelou a eleição para os demais cargos da Mesa Diretora da Câmara. E uma nova eleição para a escolha dos vice-presidente e demais cargos de direção foi marcada para esta terça-feira (2). Lira também destituiu o bloco de partidos que se formou em torno do candidato derrotado Baleia Rossi (MDB-SP). Ou seja, sem o bloco, PT, MDB, PSB, PSDB, PDT, Solidariedade, PCdoB, Cidadania, PV e Rede perdem poder de barganha na disputa pelo cargos da Mesa.

Esses partidos anunciaram que vão ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra tal decisão. “Embora Lira até possa fazer um discurso de conciliação, não creio que vá abrir mão do poder que tem. O que ele está fazendo é manter essas posições de poder. Além da cadeira da presidência, interessa também ter os outros cargos da mesa diretora e a presidência das comissões”, afirma o cientista político Cláudio Couto, coordenador do Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em entrevista ao Jornal Brasil Atual. Com a dissolução do bloco da oposição, o conjunto de legendas que apoiou Lira leva vantagem nessa disputa, de acordo com o analista. “Essa é a jogada: impor-se numa condição de força. O entendimento vai ficar mais para frente, se for o caso”, analisa Couto.

Maia enfraquecido

Couto atribui a vitória de Lira à falta de timing do então presidente Rodrigo Maia em planejar a sua sucessão. Ele apostou numa leitura “pouco ortodoxa” de que o STF autorizaria a possibilidade de disputar mais uma eleição. Derrotado, tentou organizar em cima da hora uma aliança para emplacar seu sucessor. Além disso, o cientista político também aponta a postura “imperial” de Maia, após mais de quatro anos no comando da Casa. Lira, ao contrário, se notabilizou pelo trânsito junto a amplos grupos de parlamentares.

Impeachment mais distante

Com a vitória de Lira, as perspectivas de abertura de um dos 64 processos de impeachment contra Bolsonaro ficam mais distantes. Contudo, Couto destaca que o presidente “faz oposição a si mesmo”. Em função disso, uma eventual destituição do presidente vai depender da percepção da sociedade e da própria classe política sobre a capacidade de articulação do governo. “Se houver uma deterioração muito rápida do ambiente político e da avaliação do governo, as coisas podem mudar.”

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira. Edição: Glauco Faria


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