Farsa

Lava Jato: delegada da Polícia Federal assinou depoimento que não existiu

Revelação está em nova leva de mensagens da Lava Jato enviada pela defesa de Lula ao STF. ‘Dá no mínimo uma falsidade’, escreveu Deltan Dallagnol

Fernando Frazão/Agência Brasil
Fernando Frazão/Agência Brasil
Novas mensagens vazadas entre integrantes da Lava Jato mostram diálogo entre Deltan Dallagnol (foto) e o procurador Orlando Martello Júnior. preocupados com ação ilegal de delegada da PF

São Paulo – Novos diálogos revelados no âmbito da operação Spoofing foram enviados, nesta segunda-feira (22), ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As falas revelam que delegados da Polícia Federal forjaram e assinaram depoimentos que não existiram. O objetivo era auxiliar os procuradores integrantes da operação Lava Jato, em Curitiba. Em troca de mensagens com o colega Orlando Martello Júnior, em janeiro de 2016, Deltan Dallagnol cita uma delegada.

“Como expõe a Erika: ela entendeu que era pedido nosso e lavrou termo de depoimento como se tivesse ouvido o cara, com escrivão e tudo, quando não ouviu nada… Dá no mínimo uma falsidade… DPFs (delegados da PF) são facilmente expostos a problemas administrativos”, escreveu Dallagnol.

Martello Júnior demonstra preocupação com a reiteração de tais práticas: “se deixarmos barato, vai banalizar” , disse em uma mensagem, para depois apresentar uma solução. “Podemos combinar com ela de ela nos provocar diante das notícias do jornal para reinquiri-lo ou algo parecido. Podemos conversar com ela e ver qual estratégia ela prefere. Talvez até, diante da notícia, reinquiri-lo de tudo. Se não fizermos algo, cairemos em descrédito”. As grafias originais de todas as postagens foram mantidas.

Prática “contumaz “

A defesa de Lula disse, no documento enviado ao STF, que “o uso de termos de depoimentos forjados no intuito de atender aos interesses da ‘lava jato’, segundo consta nas mensagens analisadas, era algo contumaz”. Nos diálogos, os procuradores não revelam o sobrenome da delegada. Uma policial federal chamada Erika Marena trabalhou na força tarefa e era coordenadora das investigações.

Erika foi convidada por Sergio Moro para fazer parte de sua equipe no Ministério da Justiça, no Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça, e depois saiu da pasta quando o ex-juiz deixou o governo de Jair Bolsonaro.

Não é possível, porém, afirmar que os procuradores se referem a ela, apesar dos indícios.

“Ao invés de mostrar qualquer perplexidade com a situação, até porque é função institucional do Ministério Público realizar o controle externo da atividade policial, o procurador da República Orlando Martello revela, ainda, que tal prática – de forjar depoimentos – já ocorrera ‘com padilha e outros'”, dizem os advogados de Lula.

“Foi assim q construíram a acusação contra Lula: com depoimentos forjados. E foi assim que destruíram o sistema de justiça e elegeram Bolsonaro. Não há mais como adiar a anulação de todos os processos da Lava Jato contra Lula”, escreveu a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) no Twitter.

Há duas semanas, a Segunda Turma do STF, por maioria de 4 a 1, manteve  liminar que deu à defesa de Lula acesso às mensagens trocadas entre o ex-juiz Sergio Moro e procuradores da Lava Jato de Curitiba.


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