Velha política

Com medo do impeachment, Bolsonaro virou refém do Centrão, diz Gleisi

Presidenta do PT diz que partidos do campo progressista devem obstruir os trabalhos na Câmara dos Deputados para tentar barrar a proposta de autonomia do Banco Central

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
Em vez do combate à pandemia, Bolsonaro privilegia pautas de costumes e acesso às armas na pautas prioritárias enviadas ao Congresso

São Paulo – A presidenta do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) afirmou que com a vitória de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara, o presidente Jair Bolsonaro se tornou refém dos partidos do chamado Centrão. Em troca da proteção desses partidos contra os mais de 60 pedidos de impeachment que tem contra ele, Bolsonaro terá que liberar cargos e emendas, ao melhor estilo da “velha política” que ele dizia combater. A “blindagem” também se estenderia aos filhos do presidente, envolvidos em casos de corrupção.

Além disso, ela atribuiu ao racha dos partidos da direita liberal, como o DEM e o PSDB, o fracasso do bloco de oposição que apoiou a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) para o comando da Casa.

“O Centrão tem muito poder. Hoje Bolsonaro é refém desse campo, por conta dos pedidos de impeachment que tramitam na casa. O que vamos assistir é um refém do outro. Se Bolsonaro não ceder nas questões de recursos, verbas e cargos, com certeza perde apoio e base na Câmara”, afirmou Gleisi, em entrevista ao programa Brasil TVT, neste domingo (7).

Sobre o DEM e o MDB, Gleisi destacou que são partidos que se alinham com a oposição em questões relativas à defesa de garantias individuais, e também em defesa da pauta ambiental. Mas se alinham ao governo Bolsonaro nas pautas econômicas.

“Bolsonaro apresentou 30 projetos que são prioritários para o governo. Nenhum desses projetos diz respeito à volta do auxílio emergencial, à vacinação e à vida das pessoas. Diz respeito, sim, à liberação de armas, a pauta de valores e costumes, e à economia, como essa do Banco Central. E privatizações, como a da Eletrobras. Óbvio que isso preocupa bastante”, destacou a parlamentar.

Resistência e obstrução

Com a retomada dos trabalhos no Congresso Nacional, os partidos de oposição do campo progressista devem se reunir nesta segunda-feira (8). Serão discutidas estratégias comuns para barrar a ofensiva do governo Bolsonaro nas pautas econômicas, que incluem novas ameaças aos direitos dos trabalhadores.

Ela destacou, por exemplo, que a oposição deve entrar em obstrução, na Câmara, contra a votação do projeto que dá autonomia ao Banco Central (BC). De acordo com a deputada, o BC já conta com autonomia operacional. Mas o que o sistema financeiro deseja é o comando político da autoridade monetária.

O projeto em discussão estabelece mandatos de quatro anos para o presidente e os diretores do Banco Central. Para assumir, eles deverão passar, ainda, por votação secreta no Senado. Mas, pela proposta, o novo chefe do banco deverá assumir no terceiro ano de governo do presidente da República, de modo que o seu mandado no comando da política monetária não coincida com o do presidente da República.

Outra pauta prioritária para o governo e que afeta os direitos dos trabalhadores é a PEC Emergencial. A proposta cria “gatilhos” que permite reduzir jornada de trabalho e salários dos servidores públicos, em casos de crise financeira da União.

“Vamos tentar, com certeza, a obstrução e a mobilização social. E a articulação com alguns setores da Casa, com partidos remanescentes do bloco que nós formamos. Mas não vai ser uma coisa simples e fácil. Vamos precisar muito do apoio dos movimentos sociais e da população para conter esse processo”, disse a deputada.

Indisciplina

Sobre a eleição da deputada Marília Arraes (PT-PE) como segunda-secretária da Câmara, Gleisi disse que é importante para a oposição fazer parte da Mesa Diretora da Câmara. Dessa maneira, é possível acompanhar mais de perto a tramitação dos projetos de interesse do governo e preparar as estratégias de resistência. Mas lamentou a decisão de Marília de manter a sua candidatura, quando a bancada do PT havia decido apoiar o nome de João Daniel (PT-SE). “É uma questão que vamos discutir nas instâncias partidárias.”

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira. Edição: Glauco Faria


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