De volta para o futuro

Disputa por 5G no Brasil e no mundo é tecnológica, econômica e geopolítica

Com a derrota de Donald Trump nos Estados Unidos, se esvazia o discurso de Bolsonaro contra a Huawei, a gigante chinesa de telecom

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Chinesa Huawei é responsável por cerca de metade dos equipamentos das operadoras de telecomunicações do país

São Paulo – O leilão para definir quem vai operar a tecnologia 5G no Brasil, anteriormente previsto para o primeiro semestre deste ano, deve ser realizado apenas no segundo semestre. O edital ainda não foi aprovado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O processo com a licitação é complexo e envolve enormes interesses em disputa entres as gigantes das telecomunicações. Esses interesses ultrapassam a disputa de mercado.

“A disputa não é só tecnológica e econômica, é geopolítica também”, lembra Sergio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC). Os Estados Unidos e a Inglaterra vêm acusando a empresa chinesa Huawei de ser uma espécie de “cavalo de Troia”, um instrumento de espionagem do governo chinês.

CoronaVac e Huawei

Mas, como no caso da vacina chinesa CoronaVac, as insinuações  não são acompanhadas de provas. E, também como no caso das vacinas contra a covid-19, o Brasil já está atrasado na corrida pela tecnologia 5G. No contexto da disputa tecnológica e geoestratégica envolvendo China, Europa e EUA, a Anatel diz que vai ser escolhida a melhor tecnologia. “E, até o momento, o que se sabe é que a tecnologia 5G é mais avançada entre os chineses. Mas não é o que Donald Trump dizia, que Bolsonaro disse e nem o que a Inglaterra fez. A Inglaterra e os Estados Unidos alegam segurança de informações”, diz Amadeu.

A China pode obter informações não autorizadas e invasões cibernéticas usando tal tecnologia? “Na verdade pode, assim como a Cisco pode e como os aparelhos de telecom norte-americanos também podem”, observa o professor da UFABC, em referência à Cisco Systems, a gigante do setor, sediada na Califórnia.

A questão é que a Huawei já está no mercado brasileiro há 20 anos. É responsável por cerca de metade dos equipamentos das operadoras de telecomunicações do país, em milhares de antenas dessas operadoras de telecom dos padrões anteriores, os chamados 2G, 3G e 4G. Se a empresa chinesa for excluída do negócio no país, o atraso na implantação da tecnologia será ainda maior.

Bolsonaro forçado a recuar

Porém, segundo informação divulgada pelo jornal O Estado de S.Paulo no mês passado, a mudança de cenário, com a derrota de Trump e os enormes custos envolvidos na troca de equipamentos, o governo de Jair Bolsonaro é forçado a mudar sua abordagem em relação à Huawei. Assim como em outros setores, o presidente brasileiro passa a ser mais e mais pressionado no mundo com o democrata Joe Biden na presidência dos EUA.

A tecnologia 5G acompanha a revolução tecnológica que se aproxima. A diferença entre a velocidade da rede 4G e 5G é impressionante. A quarta geração atinge cerca de 33 Mbps e a quinta pode chegar a velocidades 50 a 100 vezes maiores. A tecnologia 5G terá aplicações em inteligência artificial e dispositivos de automóvel autônomo, por exemplo. Um filme de longa metragem, que pode levar vários minutos para ser “baixado”, estaria no computador do usuário em segundos.

Mais importante, a tecnologia de quinta geração otimizaria o sistema de saúde. Potencialmente, o 5G pode trazer uma revolução na telemedicina, nos diagnósticos, na capacidade incomparável de armazenamento de dados e, também, na utilização da inteligência artificial do sistema de saúde. Com velocidade muito maior, as trocas de informações serão essenciais para atender e resolver casos de urgência ou críticos.

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