Direitos humanos

Comissão Arns presta solidariedade a Dilma, alvo de críticas de Bolsonaro

Para organismo de defesa de direitos humanos, Bolsonaro desdenha da reparação à memória e à justiça daqueles que penaram sob o arbítrio da ditadura civil-militar no país, entre 1964 e 1985

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
"O extermínio de cidadãos brasileiros no Jacarezinho, autorizado pelo governador bolsonarista, segundo a imprensa, é uma afronta ao STF que proibiu ações policiais nas favelas durante a pandemia"

São Paulo – A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, a Comissão Arns, que luta pela defesa dos direitos humanos no país, prestou solidariedade à ex-presidente Dilma Rousseff, que foi criticada pelo presidente Jair Bolsonaro em 28 de dezembro. O presidente debochou do fato de Dilma ter sido presa e torturada durante a ditadura civil-militar (1964-1985).

Diante de poucos apoiadores, Bolsonaro se divertiu com o caso. “Dizem que a Dilma foi torturada e fraturaram a mandíbula dela. Traz o raio X para a gente ver o calo ósseo. Olha que eu não sou médico, mas até hoje estou aguardando o raio X”, disse, aos risos.

A Comissão repudiou a postura do presidente com essa manifestação. Em nota, a comissão diz que o presidente “desdenhou, e ainda desdenha, do trabalho de reparação à memória e à justiça daqueles que penaram sob o arbítrio e seus algozes, entre eles, Dilma Rousseff”.

Na nota, a Comissão Arns, além de sair em defesa de Dilma, também critica o presidente pela falta de iniciativa e planejamento para combater a crise sanitária no país e defende a universalização da vacina contra a covid-19 no país.

Confira a íntegra da nota

Ao apagar das luzes de um ano tão duro para os brasileiros, eis que o presidente da República, Jair Bolsonaro, convoca novamente seus instintos mais primitivos ao atacar a ex-presidente Dilma Rousseff, presa e brutalmente torturada pela ditadura militar brasileira, que durou de 1964 a 1985. Esta infâmia, que desastradamente se insere em uma série de outras, merece o repúdio da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns, que vem a público manifestá-lo.

O negacionismo de Jair Bolsonaro em relação a todo um legado de dor, desumanidade e injustiça, deixado pela ditadura militar brasileira, não é novo. Por décadas ele vociferou barbaridades no Congresso Nacional, como ao exaltar a figura de um dos maiores torturadores do regime, Carlos Alberto Brilhante Ustra. Desdenhou, e ainda desdenha, do trabalho de reparação à memória e à justiça daqueles que penaram sob o arbítrio e seus algozes, entre eles, Dilma Rousseff. E jamais reconheceu a concertação de esforços da sociedade brasileira para tentar virar página tão triste da nossa história.

Hoje ele reitera esse negacionismo obscurantista para ocultar a sua própria incompetência no controle e manejo de uma pandemia já perto de matar 200 mil brasileiros. De maneira desarrazoada e frívola, desafia a ex-presidente a provar torturas sofridas no passado, enquanto o Brasil, segundo país do mundo com a maior taxa de óbitos por Covid-19, continua à deriva em relação a um programa de vacinação que se faz urgente.

Depois de um Natal onde sequer pudemos abraçar nossos entes queridos, e de um Ano Novo que chega com tantas incertezas, a Comissão Arns se solidariza com a ex-presidente Dilma Rousseff, em particular, e com todas as vítimas da ditadura militar, bem como com suas famílias. Como também se solidariza com as famílias atingidas pela Covid-19, ecoando o grito geral da cidadania: “Vacina Já!”. Bolsonaro se alimenta de feridas do passado. Mas os brasileiros preferem se alimentar da esperança de um futuro melhor, mais justo e mais humano.

Comissão Arns


Leia também


Últimas notícias