Atentado

Movimentos e lideranças cobram proteção à covereadora Carolina Iara

Parlamentar do Psol em São Paulo denunciou ter sofrido um atentado a tiros em sua casa. Para a Bancada Feminista, ameaça foi um “crime político, por tudo que a covereadora representa como liderança de movimentos de pessoas trans”

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Eleita pela Bancada Feminista do Psol, com a 7ª maior votação de São Paulo, Carolina é a primeira mulher intersexo a ocupar o cargo na Câmara

São Paulo – A covereadora da bancada feminista Carolina Iara (Psol-SP) abriu um boletim de ocorrência nesta quarta-feira (27) para denunciar um atentado político. Dois tiros foram disparados contra a casa da parlamentar na madrugada de terça (26), por volta das 2h10. O barulho acordou a mãe de Carolina, Maria Adalgisa. Mas ela e a filha, ao verificar que estavam bem, assim como o irmão da covereadora, – que também estava em casa no momento dos disparos –, permaneceram no local. 

Carolina registrou que na manhã do dia seguinte encontrou as marcas deixadas pelas balas. Um dos projéteis ficou alojado no muro do quintal da residência e outro na parede da sala. Ao procurarem informações sobre o ocorrido com os vizinhos, outros moradores também confirmaram o barulho dos disparos. Um deles disponibilizou imagens de uma câmera de segurança que mostram um carro branco estacionado em frente à casa da parlamentar entre 2h07 e 2h10. O vídeo revela que alguém desce e retorna rapidamente para o veículo nesse intervalo de tempo.

À Ponte Jornalismo, a parlamentar contou que achou que pudesse ser alguma bala perdida. E se assustou quando, na verdade, percebeu que era um atentado político. O caso, porém, foi registrado como “disparo de arma de fogo” e “dano” pelo delegado Tiago de Sousa Delgado da 1ª Delegacia de Proteção à Pessoa do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). 

Crime político 

Uma perícia foi pedida pela investigação que ainda não conseguiu identificar o autor ou a placa do carro pelas imagens da câmera de segurança. Carolina, que teve de sair às pressas de casa, também informou que não tem suspeitas sobre quem possa ser o autor do atentado. “Eu acho que sair de casa fugida vai ser um trauma que vou levar para o resto da minha vida”, lamentou à reportagem do UOL

Apesar de não ter inimigos, como declarou à DHPP, ela não descarta que o atentado tenha sido uma ameaça política. A covereadora da Bancada Feminista, eleita no ano passado com 46.267 – a 7ª maior votação da cidade – é a primeira mulher intersexo a ocupar o cargo na Câmara Municipal de São Paulo. 

O mandato da parlamentar também aponta ser esse um “crime político”. “Por tudo que a covereadora representa como liderança de movimentos de pessoas trans” ao ser travesti, intersexo, negra e conviver com HIV. 

Violência contra mulheres negras

“Essas ideias são perigosas para os poderosos, porque nosso feminismo é voltado para a maioria. Mas os fascistas não nos silenciarão! Carol está segura e forte, e este curso servirá, também, como uma trincheira contra os machistas, misóginos, transfóbicos, racistas”, escreveu o Bancada Feminista pelo Twitter. Na rede social, apesar de abalada, a parlamentar reforçou que os criminosos “não vão me calar”. 

A deputada estadual Erica Malunguinho alertou que a covereadora é vítima da “violência política de gênero”. Usada para silenciar e impedir a ascensão de mulheres, LGBT+ e da população negra nos espaços de poder. Ela também cobrou celeridade nas investigações. “Conversei nesta tarde com o secretário de Segurança Pública do Estado de SP, general João Camilo Pires, para reforçar a necessidade de uma investigação minuciosa sobre o atentado”, afirmou no Twitter.

A Oxfam Brasil também expressou por meio de nota sua “indignação e preocupação com mais um caso de violência política contra uma mulher negra eleita no país”. “Desde as eleições municipais de 2020, vários casos de violência política contra mulheres negras estão sendo noticiados, mas pouco se sabe das investigações e soluções para evitar que outras mulheres negras também se tornem vítimas”, declarou a Oxfam Brasil. 

Ameaças dos reacionários

Ainda ontem, a vereadora Erika Hilton (Psol-SP) também procurou pela polícia para registrar um boletim de ocorrência contra ameaças de um homem identificado como “garçom reaça”. À Folha de S. Paulo, a parlamentar relatou que solicitou à presidência da Câmara o deslocamento de homens da Guarda Civil Metropolitana (GCM) “para que sua segurança seja garantida durante o exercício do mandato”. No início do mês, segundo informações da colunista Mônica Bergamo, Erika já havia protocolado uma ação contra 50 pessoas que dispararam ameaças transfóbicas, racistas e machistas contra ela na internet.

O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também lamentaram a “intolerância e a violência de grupos fascistas”. Em nota de solidariedade à Carolina Iara, as organizações reivindicaram investigação imediata e punição dos responsáveis.  

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima


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