contradições

Moro juiz já teria autorizado condução coercitiva contra o Moro consultor, diz advogada

Para Gisele Citadino (ABJD), conflito de interesses na nova função “é o mais visível possível”. “Moro faz tudo que faz, e não há nenhum tipo de responsabilização”, destaca advogado José Carlos Portella Junior

Lula Marques
Lula Marques
Empresa da qual Moro virou sócio atestou que apartamento do Guarujá não era de Lula

São Paulo – A nova função do ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro continua causando repercussões negativas no meio jurídico. Advogados apontam questões éticas que envolvem conflitos de interesse após ele se tornar sócio-diretor da empresa de consultoria estadunidense Alvarez & Marsal (A&M). Isso porque ele possuiu “informações privilegiadas” de empresas como a Odebrecht e a OAS, que aparecem na lista de clientes da consultoria.

Além disso, essa sua nova função também reforça a tese de suspeição envolvendo o então juiz Moro. Já que a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou documento emitido pela própria A&M confirmando que o tríplex de Guarujá pertencia à própria OAS.

“Se o juiz Sergio Moro ainda estivesse em atuação ele talvez não tivesse grande dificuldade em decretar alguma espécie de busca e apreensão, talvez até mesmo uma condução coercitiva, em relação ao advogado Sergio Moro”, afirmou a advogada Gisele Citadino.

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Direito da PUC-Rio, e integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), em entrevista ao programa Revista Brasil TVT, Gisele afirmou que o conflito de natureza ética “é o mais visível possível”.

O contrato de Moro com a A&M prevê remuneração mensal de R$ 140 mil – 1,7 milhão por ano. Pelo acordo, ele também deverá fixar residência nos Estados Unidos. Por esses fatos, Gisele comparou a ação de Moro a uma espécie de “programa de proteção à testemunha”.

“Ele destruiu todas as nossas empreiteiras, e isso é algo que interessa diretamente aos Estados Unidos. Agora ele recebe uma espécie de contrapartida, porque vai viver nos Estados Unidos, ganhando um excelente salário”, declarou.

Suspeitíssimo

A jurista também diz que Moro “se vendeu” ao virar ministro do governo Bolsonaro, após ter decretado a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que era o principal concorrente do atual presidente nas eleições de 2018. Além disso, ela também destacou que as reportagens do The Intercept Brasil tornaram evidente o conluio montado entre Moro e os procuradores da Lava Jato para tirar Lula da disputa.

“O ex-presidente Lula espera, há exatos dois anos, que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida pela suspeição do juiz Sergio Moro. Poderia ter feito isso, por exemplo, quando Moro ocupava a função de ministro da Justiça. Ele tira o principal adversário de Bolsonaro do processo eleitoral e depois assume o ministério. Só isso, em qualquer lugar decente do mundo, já seria o suficiente para que a parcialidade do juiz fosse decretada”, afirmou.

O advogado criminalista José Carlos Portela Júnior, integrante do Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia (Caad), apontou também que o novo vínculo de Moro é um “absurdo” que chamaria a atenção das autoridades em qualquer país com uma democracia consolidada. “É um problema de ética, mas  também um problema legal, de conflito de interesses. O que reforça a tese de que a Lava Jato era um processo político.”

Em entrevista ao Jornal Brasil Atual nesta segunda-feira (7), ele disse que “já passou da hora” de o STF analisar a suspeição de Moro. “É mais um fato, não bastassem os outros já reveladores. Como, por exemplo, o fato dele ter ‘se vendido’ para Bolsonaro e ter ocupado o cargo de ministro”, afirmou Portella.

“Parece piada”

Para ambos, também causa estranheza Moro trabalhar agora assessorando as empresas que ele ajudou a quebrar. “Isso é uma piada. Ele destrói as empreiteiras, condena seus principais executivos, prende por um longo tempo o proprietário da Odebrecht. E agora vai trabalhar para ajudar a refazer e a reorganizar as atividades das empreiteiras que ele quebrou”, disse Gisele.

“Na verdade, o que Moro vai fazer é dar um verniz de moralidade para as empresas”, afirmou Portella. Segundo ele, o mais preocupante são as “informações privilegiadas” que ele recebeu quando era juiz. O advogado disse, ainda, que o julgamento da sua suspeição no STF serviria de “recado” para outros juízes não seguirem a mesma trilha.

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