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Com ‘sanfoneiro’ no Turismo, Bolsonaro busca consolidar aliança com o centrão

Troca no ministério tem relação com a disputa pela presidência da Câmara, segundo o cientista político Paulo Niccoli Ramirez. Também serviria para desviar a atenção do descaso com a pandemia

Isác Nobrega/PR
Isác Nobrega/PR
Machado ficou conhecido ao aparecer tocando sanfona nas lives do presidente Jair Bolsonaro

São Paulo – Ex-presidente da Embratur, Gilson Machado foi confirmado nesta quinta-feira (10) como novo ministro do Turismo. Ele substitui Marcelo Álvaro Antônio, envolvido no escândalo do laranjal do PSL. Contudo, sua saída ocorreu após entrar em conflito com o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos. Ele acusou Ramos de querer negociar o seu cargo com os partidos do chamado centrão.

Machado, que ficou conhecido ao aparecer tocando sanfona nas lives do presidente Jair Bolsonaro, deve ocupar um mandato tampão. O comando do ministério do Turismo deve entrar na negociação do governo com o centrão na disputa disputa pela presidência da Câmara.

O deputado federal Arthur Lira (PP-AL), que lançou oficialmente sua candidatura ao comando da Casa, conta com o apoio do Planalto.

“A ideia é colocar o alguém do próprio centrão no Turismo. É um ministério que movimenta muitos recursos em pequenos municípios. O objetivo é fortalecer sua aliança no Congresso. Primeiro, para não ser derrubado. E segundo, para conseguir passar a boiada”, afirmou o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual desta sexta-feira (11).

Ele usa o termo “boiada” para se referir à agenda do governo, que inclui desde a flexibilização da legislação ambiental até a liberação do acesso às armas. Por outro lado, o presidente da Câmara tem a prerrogativa de determinar a abertura de processo de impeachment contra o presidente. O que preocupa Bolsonaro, diante das denúncias do escândalo da “rachadinha”, envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Além disso, a troca no ministério também serve para desviar o foco da condução errática do governo no combate à pandemia. “Bolsonaro está mais uma vez desviando a atenção, diante do caos em relação às vacinas e à superlotação dos hospitais e UTIs”, afirmou.

Disputa

Contra Lira, o atual presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), quer o apoio dos partidos de oposição ao governo. Ele anunciou a formação de um bloco, que inclui MDB, PSDB, Cidadania e PV, PSL, além do próprio DEM. Por outro lado, o candidato do governo diz ter o apoio de PL, PSD, Solidariedade, Avante, PSC, PTB, Pros, Patriota e do próprio PP.

Na disputa anterior, Maia contou com apoio de partidos como o PSB e o PCdoB. Agora, o PT ganha importância nessa disputa, pois o atual presidente não poderá contar com os partidos do Centrão, como naquela ocasião. Além de cargos na mesa diretora e a chefia de comissões, os partidos progressistas pretendem arrancar compromisso de barrar as pautas mais reacionárias do governo para apoiar um dos candidatos.

Segundo Ramirez, a disputa pelo comando da Câmara deve influenciar, inclusive, as eleições de 2022. Mas os efeitos serão contraditórios, segundo ele. Se Lira ganhar, o governo terá maior facilidade em avançar suas pautas. Mas como são medidas impopulares, tenderiam a enfraquecer Bolsonaro e os partidos que o apoiam.

Por outro lado, uma eventual derrota do candidato do governo deve fortalecer o discurso de Bolsonaro de confronto com as instituições. Nesse segundo cenário, haveria uma nova onda de instabilidade, mas o presidente fortaleceria o apoio junto a sua base militante mais radical.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira. Edição: Glauco Faria