Eleições 2020

Período eleitoral registrou um assassinato ou atentado contra candidato a cada três dias

De 2 de setembro a 29 de novembro, violência relacionada às eleições 2020 aumentou praticamente 200% em comparação ao resto do ano, segundo levantamento da organização Terra de Direitos

Fernando Frazão/ABR
Fernando Frazão/ABR
No período eleitoral foram registrados 14 assassinatos e 66 atentados contra candidatos a prefeito e vereadores de vários partidos

São Paulo – A violência contra candidatos e representantes de cargos eletivos aumentou 196% no período eleitoral de 2020, compreendido entre 2 de setembro e 29 de novembro. A cada três dias foi registrado um assassinato ou atentado relacionado a eleições, segundo levantamento da organização Terra de Direitos.  

De 1º de janeiro a 1º de setembro, a entidade identificou 13 assassinatos e 14 atentados contra a vida de representantes de cargos eletivos e pré-candidatos em todo o país. Mas entre os dias 2 de setembro e 29 de novembro foram contabilizados 14 assassinatos e 66 atentados contra candidatos a prefeito e vereadores dos mais diversos partidos. O número de atentados registrados entre setembro e novembro saltou 371% quando comparados aos primeiros oito meses do ano.

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O levantamento identificou também 29 casos de agressão ou ameaças aos candidatos nos meses de setembro, outubro e novembro. Só na semana anterior ao primeiro turno, entre os dias 9 e 15 de novembro, foram contabilizados 45 casos de violência política, entre assassinatos, agressões, atentados e ofensas. Uma média de seis casos registrados por dia.

Eleições 2020, as mais violentas


Os registros também sinalizam aumento exponencial de casos em relação às eleições 2018, quando foram registrados 17 assassinatos e atentados contra representantes de cargos eletivos, candidatos ou pré-candidatos ao longo de todo o ano. Em 2019, 32 casos. Já em 2020, são 107 registros – um número maior do que a soma de registros entre 2016 e 2019, que totalizaram 98 registros. 

Dados da violência eleitoral

Casos registrados entre os dias 2 de setembro e 29 de novembro:

Assassinatos

  • 14 assassinatos, sendo um candidato a prefeito e 13 a vereador.
  • Registro de casos por partidos: dois assassinatos de candidatos do PTB, PP e DEM. Patriota, MDB, PL, PT, PSC, Solidariedade e PTC tiveram um assassinato cada
  • Todos são homens
  • Três assassinatos foram registrados na primeira semana da disputa eleitoral

Atentados

  • Um total de 66
  • Ocorrências por partido: Cidadania (3), PL (3), PDT (3), PSDB (3), Podemos (3), DEM (4), Republicanos (4), MDB (5), PSL (5), PT (5), PSC (5), PSB (6), PSD (7)
  • Os demais partidos contabilizam dois casos ou menos
  • Sete mulheres sofreram atentado

Ameaças

  • 29 casos de agressão ou ameaça
  • Cinco mulheres ameaçadas 

Registros em geral

  • 45 casos de violência política e eleitoral apenas na semana anterior ao primeiro turno. (assassinatos, agressões, ameaças, ofensas e atentados)
  • 19 casos de violência política e eleitoral (assassinatos, agressões, ameaças, ofensas e atentatos) no final de semana do primeiro turno (14 e 15 de novembro), sendo um assassinato.
  • Estados com maior número de registros atentados, assassinatos, ameaças e agressões: São Paulo (14), Pará (13), Rio de Janeiro (12), Bahia (12)

Monitoramento

A pesquisa Violência Política e Eleitoral no Brasil – Panorama das Violações de Direitos Humanos de 2016 a 2020, lançada em setembro pela Terra de Direitos e Justiça Global, revela que a violência contra a vida de representantes de cargos eletivos, candidatos ou pré-candidatos tem aumentado significativamente nos últimos quatros anos.

De acordo com a organização, o levantamento contribuiu para pressionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a observar e reconhecer a sistemática e grave violência dirigida à mulheres e homens que pleiteiam cargos públicos. Tanto que na última semana o TSE divulgou dados sobre violência política no país.

No entanto, o levantamento do TSE não expõe a violência em anos sem eleição, demonstrando a persistência deste tipo de agressão. Tampouco destaca o aumento dos casos ano a ano em função da polarização política e do fortalecimento do uso da violência como ferramenta política.

A organização destaca como fundamental no resultado do levantamento a confirmação de um ambiente de intimidação e ofensas a grupos sociais específicos, como mulheres, população negra e LGBTQI. Para estas populações a violência política tem o racismo, o machismo e a LGBTfobia como vetores para as práticas de ameaça, ofensa e intimidação.

Ameaça de morte

Primeira mulher negra eleita para a Câmara de Vereadores de Joinville (SC), Ana Lúcia Martins (PT) recebeu ameaças de morte e manifestações racistas pelas redes sociais logo após divulgação do resultado do pleito eleitoral. A mensagem enviada à candidata eleita dizia que “Agora só falta a gente m4t4r el4 e entrar o suplente que é branco (sic)”. O mesmo ocorreu com a pesquisadora Linda Brasil (Psol). Primeira vereadora trans eleita em Aracaju (SE), Linda vem recebendo ataques de cunho racista e transfóbico desde o dia 15 de novembro.

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“O nosso estudo abriu a cortina para se falar em profundidade dos fenômenos da intensificação e da diversificação da violência política no Brasil. A violência crescente tem acompanhado movimentos que merecem a nossa atenção e preocupação. De um lado, a instrumentalização cada vez mais intensa da política por grupos criminosos. De outro, a atuação organizada de setores conservadores de extrema-direita que se utilizam da violência racial e LGBTfóbica para criar um ambiente de intimidação contra candidatas mulheres negras, mulheres trans ou de identidade LGBTQIA+”, disse Elida Lauris, coordenadora da Terra de Direitos e da pesquisa.

Na avaliação de Elida, com o encerramento das eleições 2020 será possível verificar o crescimento dos movimentos que se utilizaram da violência para excluir as mulheres e suas pautas da política. “É preciso um amplo movimento da sociedade civil e das autoridades públicas na defesa dessas candidatas. Defender os mandatos dessas candidatas eleitas faz parte da defesa da integridade da nossa democracia”.