Defesa da democracia

Fiocruz está mobilizada para defender mandato de Nísia Trindade

Sindicato dos trabalhadores da Fiocruz diz que medidas serão tomadas caso Bolsonaro descumpra a lista tríplice, que tem Nísia Trindade em primeiro lugar

Arquivo/Fiocruz
Arquivo/Fiocruz
"Um descaso com o sofrimento, agravado pela pandemia de covid-19. A pauta de saúde mental é hoje discutida em todo o mundo"

São Paulo – O sindicato dos trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN) está mobilizado para defender a nomeação da atual presidente da instituição, Nísia Trindade, para um segundo mandato. Nísia, que é pesquisadora, obteve 87% dos votos na eleição encerrada no último dia 19 e por isso é o primeiro nome da lista tríplice que deverá entregar hoje (25) ao ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. Em segundo lugar ficou o coordenador de Vigilância e Laboratórios de Referência Rivaldo Venâncio da Cunha e em terceiro, o atual vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional, Mario Santos Moreira.

Na sequência o ministro Pazuello entregará a lista tríplice ao presidente Jair Bolsonaro, que fará a nomeação. Como tem se tornado comum Bolsonaro desprezar a escolha dos trabalhadores e nomear aqueles de sua preferência, que não estão na primeira colocação – e até mesmo fora da lista – para a reitoria de universidades federais, não é descartada a possibilidade de que o mesmo ocorra na Fiocruz.

Bravatas

“Estamos mobilizados para defender a democracia institucional e a vitória retumbante de Nísia devido à resposta à pandemia, obtida após amplo debate público e com forte apoio, até externo. A eleição, inclusive, foi acompanhada por observadores externos. Há ‘balão de ensaio’ e Bolsonaro pode querer tumultuar, vir com suas bravatas, mas estamos atentos”, disse à RBA Paulo Garrido, presidente da Asfoc-SN.

Garrido lembrou que alguns deputados aliados do governo tentaram politizar a eleição. Chegaram a se mobilizar por apoio ao analista de gestão Florio Polonini, que não obteve votos suficientes para ficar entre os três primeiros.

Eleição na Fiocruz

A eleição na Fiocruz desperta interesse especialmente por causa da ampliação de sua histórica importância para a saúde pública nacional. Desde o início da pandemia de covid-19, a instituição vinculada ao Ministério da Saúde saiu na dianteira em pesquisas sobre o tema. Foi em um de seus laboratórios em Manaus que os pesquisadores descobriram não haver benefícios do uso da cloroquina no tratamento da doença. Há ainda estudos para testes diagnósticos e vacinas, inclusive em parceria com o laborátório anglo-sueco AstraZeneca. Como autoridade de saúde, recomendou desde o início da pandemia o isolamento social e outras medidas preventivas, que se chocam com diretrizes do próprio governo.

A Fiocruz tem orçamento de quase R$ 4 bilhões para financiar pesquisas em dezesseis unidades espalhadas por diversos estados brasileiros, além da produção de vacinas e medicamentos em suas duas fábricas. Com a pandemia, a Fiocruz recebeu R$ 400 milhões para construir um hospital para vítimas da covid-19.

Em janeiro de 2017, o então ministro da Saúde Ricardo Barros – atual líder do governo Bolsonaro na Câmara – escolheu a segunda colocada, Tania Araújo-Jorge. A primeira era Nísia Trindade, que acabou nomeada devido a pressão de cientistas e parlamentares. Era a primeira vez que um governo quebrava a tradição do respeito à soberania do voto nas instituições com eleição direta para escolha de seus gestores.

Deputados e cientistas cobram nomeação de eleita para presidir Fiocruz