Primos

Em Recife, João Campos e Marília disputam o legado de Miguel Arraes

Bisneto e neta do ex-líder pernambucano aparecem nas primeiras colocações na disputa pela prefeitura da capital, enquanto candidatos bolsonaristas patinam

Reprodução/Facebook
Reprodução/Facebook
Em função da pandemia, saúde pública é a principal preocupação do eleitorado recifense

São Paulo – Os primos João Campos (PSB-PE) e Marília Arraes (PT-PE) devem disputar o segundo turno das eleições municipais em Recife. Segundo o cientista político Michel Zaidan, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), João, que lidera nas pesquisas, é visto como “mais inexperiente” e sofre com a segunda maior rejeição entre os candidatos. Já Marília, “mais destemida”, vem registrando crescimento consistente ao longo da campanha.

Por outro lado, assim como vem acontecendo em outras capitais, os candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro – Delegada Patrícia (Podemos) e Coronel Feitosa (PSC) – têm patinado na preferência do eleitor. À frente destes, mas atrás dos favoritos, o ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM) tem aparecido na terceira colocação.

Por ora, a única certeza é que o legado do ex-governador Miguel Arraes (1916-2005) sairá vitorioso. “Acho que ele ficaria muito satisfeito”, diz o professor, “se pudesse ver a neta e o bisneto disputando o comando da capital pernambucana”.

“João tem a segunda maior rejeição, o que é uma grande desvantagem para quem vai ao segundo turno. E Marília tem a segunda menor rejeição. Portanto, o potencial de crescimento dela é muito grande”, disse o professor, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (13), a dois dias das eleições municipais que ocorrerão no próximo domingo (15).

Primeira viagem

A principal semelhança entre os primos, ambos deputados federais, é que esta é a primeira vez que disputam uma eleição majoritária para o Executivo. Em função da pandemia, a Saúde Pública aparece como o principal tema em discussão, segundo o especialista. Emprego, habitação e transportes também compõem a lista de preocupações do eleitor.

“Marília vem crescendo durante a campanha. Sua performance como candidata foi boa, inclusive durante o único debate que houve. João sofreu muitos ataques, não só de Marília, mas de Mendonça e outros candidatos. E acho que não se saiu muito bem. Houve momentos em que ele não soube responder. Por isso João caiu, Marília subiu”, analisa Zaidan.

Na última pesquisa Datafolha, divulgada na quarta-feira (11), Campos oscilou de 31% para 29%. Já Marília passou de 21%, na semana passada, para 22%. Há pouco mais de 15 dias, ela tinha 18%.

Alianças

Outro fator, contudo, que pode ser decisivo é a capacidade de atrair aliados no segundo turno. Nesse quesito, João leva vantagem, segundo Zaidan. Dada a posição de destaque do PSB no estado, ele diz que o partido não é mais de esquerda, como o nome pode sugerir.

“Nem de centro-esquerda ele é. Então ele (João Campos) pode atrair os votos da direita e da centro-direita, distribuindo cargos, como Eduardo Campos (ex-governador, morto em 2014) fazia anteriormente”. Marília, por outro lado, teria mais dificuldades em fazer alianças com partidos “fisiológicos e clientelistas”.

Bolsonaristas

Em meados de outubro, a Delegada Patrícia chegou a aparecer em terceiro lugar, com 16%, segundo o Datafolha. Depois caiu para 14%, e agora tem 15%. Mendonça Filho tinha 15%. Depois subiu para 16%, e agora tem 18%. Já o Coronel Feitosa oscilou entre 1% e 2%. “Parece que o apoio de Bolsonaro prejudicou o desempenho desses candidatos. O presidente gravou vídeos com eles e, em vez de aumentar, houve queda nas intenções de votos dos dois. Além do mais, eles brigam entre si”, comentou Zaidan.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Helder Lima