Análise

Eleições marcam volta da política tradicional e ‘dança das cadeiras’ na esquerda

Cláudio Couto (FGV-SP) destaca derrota do bolsonarismo e refluxo do discurso da antipolítica. Esquerda também sai fortalecida em frentes importantes como a cidade de São Paulo

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Antipolítica não constrói nada: "O bolsonarismo é o exemplo mais cabal. Um governo de destruição em todos os sentidos"

São Paulo – Nestas eleições, os partidos da política tradicional, de centro, centro direita e direita – como MDB, PP, PSD, PSDB e DEM – ocupam as cinco primeiras posições no ranking de prefeituras conquistadas no primeiro turno. Juntos, esses partidos vão controlar quase 3 mil dos 5.570 municípios brasileiros. Por outro lado, o PSL, que elegeu o presidente Jair Bolsonaro, conquistou apenas 85 municípios, sem marcar presença nas capitais ou cidades médias mais importantes.

Esses dados, segundo o cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), indicam a “extrema-direita” bolsonarista como a principal derrotada nas eleições. Também marcam perda de espaço para o discurso da antipolítica, que marcou as duas últimas eleições.

“O bolsonarismo sai, em boa medida, perdedor dessas eleições. Em parte, porque Bolsonaro optou por não ter um partido. Assim, perdeu a possibilidade de articular uma frente em torno do seu nome”, disse Couto, em entrevista ao Jornal Brasil Atual nesta segunda-feira (16).

Couto comemorou a perda de espaço dos candidatos que negam a política. “A meu ver, as pessoas se ressentem dessa antipolítica. Viram que não dá resultados. Na verdade, é a lógica de destruição do estado, da política e da sociedade. E que não constrói nada. O bolsonarismo é o exemplo mais cabal. Um governo de destruição em todos os sentidos”, afirmou.

Esquerdas

Por outro lado, os resultados das eleições municipais revelam mudanças no campo da esquerda, que também saiu fortalecida, além da política tradicional nestas eleições. Couto destaca o PT “mais interiorizado”. Já o Psol aparece como um potencial concorrente nos grandes centros, como é o caso de São Paulo.

“Há um certo recuo do PT em relação a posições que teve no passado. Mais interiorizado, perde uma parte significativa da sua força nos grandes centros urbanos. E começa a ver sua dissidência pela esquerda, o Psol, crescendo em lugares aonde o PT era forte”, destaca Couto.

Até o momento, o PT conquistou 174 cidades. E ainda disputa o segundo turno em outras 15 cidades ou capitais, como Recife (PE) e Vitória (ES). Além disso, integra a coligação nas disputas em Porto Alegre (RS), por exemplo.

Já o Psol alcançou apenas quatro prefeituras no primeiro turno. E disputa ainda outras duas, com destaque para São Paulo, a maior cidade do pais. Em Belém, por outro lado, ambos os partidos estão unidos desde o início da disputa.

Mais à direita de PT e Psol, mas à esquerda dos demais, o PSB venceu em 245 cidades. E pode alcançar outras oito, no segundo turno. Já o PDT conquistou 306 municípios, e pode avançar para mais quatro.

Legislativos mais representativos

O cientista político também destacou como avanço importante o maior número de mulheres eleitas nas câmaras municipais por todo o país. Ele relaciona esse crescimento à política de cotas, que determina que as mulheres componham pelo menos 30% das candidaturas apresentadas pelos partidos, com divisão proporcional dos recursos de públicos voltados para as campanhas.

Além disso, outros grupos historicamente sub-representados, como a população negra e os LGBTs também registraram avanços na representação. Curitiba, por exemplo, elegeu pela primeira vez uma mulher negra como vereadora. Trata-se da professora Carolina Dartora (PT-PR). Já em Belo Horizonte, a professora Duda Salabert (PDT-MG), mulher trans, foi a candidata mais votada.

Couto ressaltou inclusive que, desta vez, a pauta de gênero transcendeu os limites da esquerda, onde se concentrava anteriormente. É o caso de Thammy Miranda (PL-SP), homem trans eleito vereador em São Paulo por um partido conservador.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima


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