Negacionismo

Internações por covid-19 aumentam, mas Doria adia mudar quarentena para depois da eleição

Estado registrou mais de mil internações por conta do vírus, mas Plano São Paulo será atualizado apenas dia 30

Governo de SP
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Depois de negar a piora na pandemia em novembro, Doria e Gorinchteyn agora querem relaxar quarentena com melhora mínima

São Paulo – O governo de São Paulo admitiu, nesta segunda-feira (16), que o estado sofre com um aumento nas internações por covid-19, mas adiou a mudança nas regras da quarentena para o dia 30 de novembro – um dia depois do segundo turno da eleição municipal. Na última semana do ciclo epidemiológico, que foi do dia 8 a dia 14 de novembro, as internações de casos suspeitos e confirmados cresceram 18%.

Segundo dados do próprio governo do estado, divulgados em coletiva, o total de casos novos por semana, que estava em queda, parou de cair em relação à semana anterior. Apesar disso, o governo de João Doria não prometeu nenhuma ação para frear a previsível retomada da infecção. O secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, afirma que os dados ainda não preocupam. “Qualquer variação entre 10% e 20% ainda é pequena, mas é preciso ter atenção”, disse.

Ainda de acordo com o governo Doria, o adiamento do Plano São Paulo se dá por “precaução” e por conta da instabilidade no sistema do Ministério da Saúde, que tem atrasado os boletins sobre a pandemia. A atualização do Plano São Paulo, que regulamenta os estágios da quarentena nas diversas regiões do estado, estabelece a intensidade das medidas de distanciamento social de acordo com os indicadores de saúde de cada local.

O estado de São Paulo registrou média móvel de mais de mil internações decorrentes da covid-19 neste domingo (15). Na última quarta-feira (11), foram 1.145, o maior registro desde 10 de outubro. São 13 regiões paulistas com aumento de internações, de um total de 17.

Na Grande São Paulo, a média móvel chegou a 627 novas internações ontem. E, na última quinta-feira (12), foram registradas 695 internações em um único dia, o maior número desde 30 de setembro. Os aumentos de internações mais intensos foram registrados em Sorocaba, Registro, Baixada Santista, Araçatuba e Marília.

Sem aglomeração

O governador Doria confirmou que a ocupação de leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) cresceram na última semana, em comparação com a semana anterior. “O momento requer precaução para uma análise mais completa”, afirmou o tucano, que, como medida preventiva, limitou-se a pedir o fim das aglomerações. “As pessoas não devem se aglomerar em bares, calçadões, na praia, porque todos estão sujeitos a contrair o vírus.”

O aumento de internações por covid-19, segundo o governo do estado, foram motivados pelo feriado no Dia de Finados, no último dia 2. “A média diária de casos, nos últimos 14 dias, ainda está estabilizada. Por precaução, o governo de São Paulo mantém a classificação do Plano SP por mais duas semanas. Os dados da saúde norteiam os planos do governo. Se nós tivermos os índices aumentados, tomaremos medidas mais austeras”, explicou Gorinchteyn.

O médico João Gabbardo, secretário-executivo do comitê de contenção do coronavírus de São Paulo, disse que o aumento dos indicadores são pontuais e atribui a alta ao feriado do Dia de Finados. “Do ponto de vista epidemiológico, quando olhamos para o feriado que teve, não podemos dizer que esses números têm um significado definitivo.” Ele também recomendou evitar aglomerações como forma de reduzir as chances de contágio pelo novo coronavírus. “As pessoas precisam evitar festas.”

Sem ação para covid-19

Para o ex-ministro da Saúde e médico sanitarista, Arthur Chioro, o governo Doria hesita, mas há tempo agir antes que a situação se agrave. “Inaceitável. Os dados que sobem para o Ministério da Saúde (MS) são produzidos localmente e transferidos para a secretaria de Saúde. O governador não confia nos dados da sua própria secretaria? Não venha querer culpar o MS, que é mesmo responsável por outras atrocidades, mas não essa. Ciência só vale quando valida as crenças do governador? Quantas pessoas terão que morrer até que ele reconheça o agravamento da situação e tome as medidas que precisam ser tomadas? Ou os interesses eleitorais transmitiram ao governador tucano a doença do negacionismo do presidente?”, questionou.


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