Era Bolsonaro

Deputados pedem afastamento de 03 de comissão após agressão ‘infame’ à China

Chineses reagem com ênfase incomum a ataque de Eduardo Bolsonaro, mas Itamaraty sai em defesa do filho do presidente

Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Cleia Viana/Câmara dos Deputados
China reage a declarações "infames" de Eduardo Bolsonaro

São Paulo – “Se o pai do deputado, que é o presidente da República Jair Bolsonaro, se cala frente a essas agressões contra o maior parceiro comercial do Brasil, o Parlamento não pode se calar.” A declaração é da deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB-AC). Ela se refere à mais nova hostilidade à China do colega Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. A parlamentar classifica as declarações do filho do presidente como “absurdas”.

Junto com os deputados Fausto Pinato (PP-SP) e Daniel Almeida (PCdoB-BA), Perpetua – presidente Frente Parlamentar da Cooperação entre os Países do Brics – encaminhou nesta quarta-feira (25), ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), requerimento pedindo “imediato afastamento” de Eduardo Bolsonaro da presidência da Comissão de Relações Exteriores.

É também grave que, em vez de adotar o tom diplomático que o caracteriza historicamente, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil tenha reagido, em defesa de Eduardo Bolsonaro, agressivamente à nota emitida pela Embaixada da China. “O tom e conteúdo ofensivo e desrespeitoso da referida ‘Declaração’ prejudica a imagem da China junto à opinião pública brasileira”, reagiu Itamaraty, comandado pelo ministro Ernesto Araújo, nesta quinta (26).

Para Perpétua, o chamado filho 03 de Jair Bolsonaro “traz constrangimento ao parlamento. E ainda pode trazer graves prejuízos políticos e econômicos na relação entre os dois países”.

5G “sem espionagem”

Segundo o deputado do PSL, o governo de seu pai “declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”.

Na opinião de Enio Verri (PT-PR), que também assinou o documento pedindo o afastamento de 03, a palavra cabível para a atitude de Eduardo Bolsonaro é: “absurdo”. O petista diz que já esteve na embaixada da China, onde os diplomatas insistem que querem manter boas relações com o Brasil. “Entretanto, a impressão que eles sentem é que quem não quer é o governo brasileiro”.

Paciência no limite

A resposta da embaixada da China, mais incisiva do que o normal, mostra que o gigante oriental está chegando ao limite de sua paciência com Eduardo e a família Bolsonaro. “O efeito pode ser muito danoso para a economia brasileira. Isso num momento de grande crise econômica mundial por conta da pandemia. Crise esta agravada pela ineficiência das politicas econômicas adotadas pelo Paulo Guedes”, observa Verri.

Eventuais medidas contra o filho do presidente cabem agora ao presidente da Câmara. Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Aguardamos agora a posição do Rodrigo”, diz Verri. Na semana que vem a oposição se reúne com Maia e essa será uma das pautas.

“Esse imbecil”

A fala de Eduardo também provocou indignação a representantes do agronegócio brasileiro. “Os chineses estão muito sensíveis a esse tema e esse imbecil quer importar a narrativa de Donald Trump em tempos eleitorais para o Brasil”, disse “um dos cardeais do agronegócio brasileiro”, segundo reportagem do Valor Econômico.

A Embaixada da China no Brasil reagiu de maneira enfática incomum, dizendo que a fala de Eduardo Bolsonaro “é totalmente inaceitável”. A representação diplomática da China afirmou que as acusações de Eduardo Bolsonaro de espionagem cibernética “não são condignas com o cargo de presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados”.E que tais declarações “prestam-se a seguir os ditames dos EUA” e cercear as atividades de empresas chinesas.

Na nota, a embaixada da China acrescenta que “Eduardo Bolsonaro e algumas personalidades têm produzido uma série de declarações infames (…) Solapam a atmosfera amistosa entre os dois países e prejudicam a imagem do Brasil”. E classifica a fala do 03 como “retórica da extrema direita norte-americana” (leia a íntegra da nota aqui).

Fluxo de comércio

Entre janeiro e outubro, as exportações brasileiras para a China foram de US$ 58,459 bilhões, respondendo por 33,5% do total de exportações do país. O Brasil importa do país oriental US$ 27,425 bilhões.

A diplomacia chinesa destaca as cooperações entre os dois países em telecomunicação e outros setores. E ainda o apoio ao Brasil no enfrentamento da pandemia de coronavírus, “assegurando o suprimento de materiais, fornecendo assistência humanitária e compartilhando experiências”.

Segundo o 03, o programa ao qual o Brasil aderiu visa a proteção contra “invasões e violações às informações particulares de cidadãos e empresas”, o que ocorre, segundo ele, por entidades “agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista Chinês”.


Leia também


Últimas notícias