Sabatina Uol

‘Combater desigualdades é bom para a cidade como um todo’, diz Boulos

Bruno Covas disse que põe “a mão no fogo” pelo vice Ricardo Nunes, suspeito de se beneficiar de esquema de superfaturamento no aluguel de creches

Reprodução/Uol
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Covas negou agravamento da pandemia em São Paulo, enquanto Boulos frisou a necessidade de testes em massa

São Paulo – Candidato à prefeitura de São Paulo pelo Psol, Guilherme Boulos prometeu “inversão de prioridades” caso seja eleito no próximo domingo (29). Ele afirmou que pretende focar os investimentos públicos em áreas da periferia que foram “abandonadas” nas gestões anteriores. Mas afirmou que o combate às desigualdades traz benefícios a todos.

“O combate à desigualdade é bom para todo mundo. Não só para aquelas pessoas que vão receber políticas sociais”, afirmou Boulos, em sabatina ao portal Uol, nesta quinta-feira (26). Segundo o candidato, o abismo entre ricos e pobres torna a cidade “refém” da insegurança e de eventuais conflagrações.

Boulos prometeu “responsabilidade” na forma de lidar com o orçamento da cidade, mas sem ser “irresponsável socialmente”, como esse governo tem sido. Ele acusou atual prefeito Bruno Covas (PSDB) de tratar a prefeitura como um “banco”, concentrando recursos, em vez de investir.

O candidato também afirmou que não vai elevar impostos para os cidadãos nos próximos quatro anos. Contudo, prometeu aumentar a alíquota do ISS para instituições financeiras. Também sugeriu que vai corrigir “distorções” na cobrança do IPTU. Essas correções serão feitas “caso a caso”, segundo ele, e podem resultar no aumento da cobrança para grandes propriedades em áreas nobres e isenções em regiões mais carentes.

Boulos denunciou ainda “mentiras” divulgadas pela campanha adversária, como a de que demitiria professores e romperia convênios com creches particulares que prestam serviços para a prefeitura. A disseminação dessa fake news foi inclusive comemorada pelo secretário de Educação, Bruno Caetano. “Não é um boato sem origem. Tem autoria. E é alguém da equipe do próprio prefeito. Isso precisa ser repudiado.”

“Mão no fogo” pelo vice

Já o atual prefeito, Bruno Covas, afirmou que “não há nada” que desabone o seu candidato a vice, Ricardo Nunes (MDB). Ele também prometeu cumprir os quatro anos de mandato, contrariando o histórico tucano de abandonar a prefeitura após dois anos para disputar o governo do estado.

Nunes é suspeito de se beneficiar com alugueis superfaturados de creches para a prefeitura. Além disso, sua esposa registrou contra ele, em 2011, um boletim de ocorrência por ameaça e agressão verbal durante uma discussão.

“Mas não há nada que desabone o Ricardo Nunes. A própria esposa disse que foi apenas um desentendimento”, apontou Covas. “Coloco minha mão no fogo por ele. A população pode votar tranquilamente, que terá um vice a altura das expectativas.”

Covas reconheceu, ainda, que Boulos tem uma campanha mais bem-sucedida entre os jovens. Mas disse que pesquisa não define eleição. Também afirmou que pretende dialogar com o candidato derrotado Orlando Silva (PCdoB) sobre projeto que pretende cassar alvará de estabelecimentos que reincidirem em casos de racismo. Orlando, entretanto, apoia Boulos.

Sobre as obras no Vale do Anhangabaú, Covas disse que “não é verdade” que houve alagamento na região nas últimas chuvas. Segundo ele, os investimentos no local têm potencial gerar R$ 250 milhões por ano, em negócios e empregos. E prometeu a sua inauguração em dezembro, quando for assinado o contrato de licitação. A obra custou 93,8 milhões, e o grupo vencedor pagou R$ 6,5 milhões para explorar o espaço.

Pandemia

Sobre a pandemia, Boulos afirmou que fará testes em massa, “aquilo que o prefeito deveria ter feito”. Ele destacou os exames os 6,8 milhões de kits de diagnóstico comprados pelo Ministério da Saúde, e que não foram distribuídos. “Nós temos 8 mil agentes comunitários que poderiam ser mobilizados para fazer testagem em massa.”

O candidato do Psol também afirmou que pretende abrir mais leitos nos hospitais municipais. “É um escândalo, em meio à maior crise da saúde pública dessa geração, a gente ter o hospital Sorocabana, na Lapa, com um andar aberto e sete fechados”, pontuou Boulos. Ele também afirmou que seguirá orientações dos especialistas sobre eventual necessidade de ampliar restrições na cidade para combater o avanço da doença. “Acho que isso não está colocado hoje.”

Já o prefeito Bruno Covas negou que possa decretar medidas mais restritivas na próxima semana, depois de passada a eleição. Ele voltou a afirmar que a pandemia, na cidade de São Paulo, está “sob controle”. Também disse que a gestão municipal não está “escondendo” nem “maquiando” nenhum número.

“A gente tem uma estabilidade em relação ao número de casos e de óbitos. Tivemos um aumento na quantidade de internações. Mas é preciso considerar a redução de leitos destinados especificamente para a covid-19”, disse Covas. Os dados oficiais, contudo, indicam que houve aumento de 24,5% nas mortes por covid-19 na capital paulista nas últimas semanas.