Cenário

Nova pesquisa mostra crescimento da avaliação positiva de Bolsonaro

Segundo analista política, apoio pode estar vindo de setores que se sentiram prejudicados pela longa quarentena, provocada pelo próprio presidente

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
"A postura de Bolsonaro diante da pandemia é extremamente inconveniente num momento como esse, mas infelizmente alguns setores apoiam", afirma professora

São Paulo – Aparentemente, setores da sociedade que eram a favor da abertura da economia diante da pandemia e contrários a medidas de distanciamento social, e que se sentem prejudicados pelas recomendações da ciência, estão provocando o aumento da popularidade do presidente Jair Bolsonaro e seu governo. Essa é a avaliação preliminar da professora Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos, ao comentar pesquisa CNT/MDA divulgada nesta segunda-feira (26), que mostra crescimento da aprovação do governo e do chefe do Executivo.

Segundo o estudo, a avaliação positiva do governo federal subiu de 32%, em maio, para atuais 41,2%. O desempenho pessoal de Bolsonaro é aprovado por 52%, contra 39,2% na pesquisa anterior. A desaprovação caiu de 55,4% para 43,2%. A pesquisa CNT/DMA foi realizada de 21 a 24 de outubro, por meio de 2.002 entrevistas presenciais, em 137 municípios de 25 estados.

“Alguns setores se sentem mais prejudicados com a quarentena e o distanciamento social. Há muitos setores quebrando, ficou difícil manter os negócios, principalmente pelos pequenos empresários”, diz a cientista política. “Tinha mesmo que ser uma opção pela vida, distanciamento social etc., não tinha jeito. Mas há setores que se sentem realmente prejudicados”, reforça.

Contra a ciência

A postura de Bolsonaro diante da pandemia – contrariando recomendações até mesmo da Organização Mundial da Saúde – “é extremamente inconveniente num momento como esse, mas infelizmente há apoio”, acredita a analista. Diante do quadro, em sua opinião, não se pode fazer um prognóstico para as eleições de 2022. “Mas mostra que Bolsonaro tem força. 40% não é pouco.”

“Certos segmentos da população, se não saíram de casa para trabalhar e ter o salário no final do mês, devem ter ficado desesperados. E Bolsonaro conta com o setor conservador das igrejas, que nunca se desgarrou dele.”

Entre os mais atingidos pela retração da economia com a crise provocada pela pandemia estão a indústria, o comércio e serviços, segundo o governo.

Auxílio emergencial

Maria do Socorro lembra que, a não ser o auxílio emergencial, que vai vigorar até dezembro, não houve nada de novo aprovado pelo Congresso Nacional em termos de políticas públicas, nem mesmo houve aumento de real do salário mínimo, que foi de R$ 998,00 para R$ 1.045,00, reajustado sem aumento real, apenas considerando-se o INPC. “Outra coisa é que, embora alguns analistas digam que é clichê, o auxilio emergencial também me parece importante no apoio a Bolsonaro.” 

Segundo a pesquisa, 79% dos entrevistados consideram o auxílio emergencial muito importante,  16,9% avaliam como tendo importância moderada e, na opinião de 3%, é pouco importante.

Ao contrário de análises que, até meados do ano, apostavam na degradação da popularidade de Bolsonaro, o que viabilizaria o andamento de um processo de impeachment, a professora da Ufscar não chegou a apostar que isso poderia de fato ser desencadeado no parlamento.

“Nunca tive a expectativa de que setores da direita se uniriam com a esquerda no Congresso para derrubar Bolsonaro. Setores econômicos e empresariais preferem mantê-lo. As pessoas da nossa elite política preferem manter o apoio a Bolsonaro a ‘destroná-lo’ de vez com um impeachment. E corremos o risco de chegar a 2022 e ele se reeleger.”


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