Normalidade

Eleições municipais podem ser ‘transição’ após predomínio da antipolítica

Cientista político Cláudio Couto (FGV-SP) aponta para o “fim das ilusões” com a negação da política que predominou nas duas últimas eleições

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
Onda de candidatos militares, contudo, ainda é risco para a democracia

São Paulo – O cientista político Cláudio Couto, professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), prevê que as eleições municipais deste ano podem representar o retorno da chamada política tradicional. Segundo ele, a antipolítica foi a marca das disputas locais de 2016 e da vitória de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. Mas esse ciclo pode estar sendo rompido atualmente.

A destruição de políticas públicas em diversas áreas, o aparelhamento do Estado com militares e olavistas, além das denúncias de corrupção envolvendo Bolsonaro e sua família, são fatores que colaboram para a superação do discurso da antipolítica.

Em 2016, por exemplo, o então candidato à prefeitura de São Paulo João Doria (PSDB) venceu a disputa alegando não ser político, mas “gestor”. O mesmo ocorreu em Belo Horizonte, com a vitória de Alexandre Kalil (PHS), em Belo Horizonte. Em 2018, além de Bolsonaro, outros nomes, como o do governador afastado do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC), também se beneficiaram desse discurso.

“Isso tudo faz com que uma parcela do eleitorado perceba que a antipolítica é não é uma saída. Consequentemente, as pessoas começam a olhar com mais atenção para os políticos tradicionais. Aqueles que fazem política sem negá-la”, afirmou Couto em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual, desta quarta-feira (14).

Contudo, segundo ele, é uma transição porque a “onda antipolítica ainda não refluiu por completo. “Ainda há eco desse discurso da antipolítica. Mas há também uma tentativa por parte do eleitorado de retomar a discussão política a sério”, afirmou.

Permanências

Apesar desse movimento de mudança, Couto destaca o grande número de candidatos militares nestas eleições, assim como outras figuras que também incorporam o discurso de que “bandido bom é bandido morto”. É o caso do ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e desembargador aposentado Ivan Sartori, que pretende disputar a prefeitura de Santos, no litoral paulista, contando com o apoio de Bolsonaro.

Ele ficou conhecido por ter sido votado a favor da absolvição de todos os policiais militares envolvidos no massacre do Carandiru, que culminou com a morte de 111 detentos no maior presídio da América Latina, em 1992. Para Sartori, não houve massacre, mas “legítima defesa” dos policiais.

Para Couto, são exemplos de “pretorianização” da política, em referência à guarda pretoriana dos imperadores romanos que, por vezes, faziam investidas na política palaciana. “A política é o campo dos civis. O poder militar, numa democracia, deve ser subordinado ao poder civil. Esse é o problema dessa mistura entre policialismo e política. É isso que o bolsonarismo produz, esse tipo de confusão”.

Assista à entrevista:

Redação: Tiago Pereira. Edição: Glauco Faria