Irresponsabilidade

Bolsonaro é criticado por recusar CoronaVac: ‘Vai matar os seus por birra’

Governadores criticaram a decisão do presidente. Flávio Dino classifica a medida como ‘guerra federativa’

Isac Nóbrega/PR
Isac Nóbrega/PR
Nesta quarta-feira (21), o presidente desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a comprar 46 milhões de doses da Coronavac, criada pela farmacêutica chinesa Sinovac

São Paulo – Governadores, lideranças políticas e especialistas em saúde se revoltaram com a decisão do presidente Jair Bolsonaro em não comprar a vacina CoronaVac, produzida pela empresa chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo.

Nesta quarta-feira (21), o presidente desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a comprar 46 milhões de doses do imunizante. “Não será comprada. Qualquer coisa publicada, sem comprovação, vira traição”, disse, acusando o Pazuello de ser traidor.

O biólogo e pesquisador brasileiro Átila Iamarino afirmou que poucas vacinas terão eficácia e descartar qualquer uma, por motivos que não sejam científicos, é “matar os seus pra fazer birra”.

Já o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) disse que o presidente Bolsonaro “desautorizou a única atitude sensata do ignorante que nomeou para ministro da Saúde”. A presidenta do PT e deputada federal pelo Paraná, Gleisi Hoffmann, também criticou o governo federal por tratar um assunto de saúde pública pelo viés ideológico.

“Presidente estúpido, ignorante e irresponsável. Trata ideologicamente assunto de saúde pública. Faz disputa política em cima da vida das pessoas, espalhando mentira e medo. Vai fazer o que? Esperar a sobra de alguma vacina americana?”, questionou nas redes sociais.

O deputado federal David Miranda (PSOL-RJ) classifica o presidente como “genocida assumido”. “Bolsonaro além de dizer que a vacina contra uma doença que já matou 150 mil pessoas no Brasil não será obrigatória, agora também diz que o governo não vai comprar doses da vacina desenvolvida pela China e o Instituto Butantan”, tuitou.

Governadores criticam

A medida de Bolsonaro foi alvo de críticas também por parte de governadores como o do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB), que falou em recorrer à Justiça para ter acesso a vacinas validadas pela comunidade científica. Ele classifica a ação como uma “guerra federativa”.

“Se Bolsonaro desautorizar o amplo acordo feito por Pazuello, ele mais uma vez estará sabotando o sistema de saúde e criando uma guerra federativa. Bolsonaro não pode dispor das vidas das pessoas para seus propósitos pessoais. E Bolsonaro vai perder de novo, se insistir com mais essa agressão insana aos estados”, disse.

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), também criticou a decisão de Bolsonaro de rejeitar a CoronaVac. “Temos que apelar ao presidente para que a gente tenha equilíbrio, racionalidade, empatia com quem pode pegar esse vírus. Salvar vidas e libertar os brasileiros do coronavírus são objetivos que devem unir todos nós. Adquirir as vacinas, que primeiro estiverem a disposição, deve ser a meta primordial. Nesse contexto não há espaço para discussão sobre assuntos eleitorais ou ideológicos.”

O secretário de Saúde Fabio Vilas-Boas, do governo Rui Costa (PT), da Bahia, acredita que Bolsonaro está politizando a questão da vacina. “Não podemos politizar a vacina, nem qualquer aspecto relacionado a essa pandemia. A postura do ministro Pazuello foi elogiada por todos, independente de posições partidárias. Espero que alguém possa conversar com calma e esclarecer o presidente sobre esse tema”, defendeu.

Segundo a Folha de S.Paulo, o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), afirmou estar perplexo com a declaração de Bolsonaro. “O presidente da República, numa decisão impensada, anuncia que não vai fazer a compra da vacina chinesa. Vacina não é de direita ou de esquerda, o que interessa é que tenha eficácia. Se for isso (que Bolsonaro falou), vai ter consequência muito grave e o preço vai ser muito caro”, lamentou.

A indignação dos governadores é motivada pela reunião feita entre representantes dos estados e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, nesta terça-feira (20). O responsável pela pasta anunciou acordo com o estado de São Paulo para a compra da CoronaVac e disse que iria incorporar a vacina ao Programa Nacional de Imunização. Segundo o ministro da Saúde, o imunizante “será a vacina do Brasil”.


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