Violência política

Deputada do Psol precisa recorrer à ONU por proteção após ameaças de morte

Em carta, Talíria Petrone denuncia que os governos federal e estadual do Rio negaram qualquer tipo de auxílio e pede apoio da entidade

Ricardo Albertini/Câmara dos Deputados
Ricardo Albertini/Câmara dos Deputados
"Percebo as ameaças dirigidas a mim como uma ameaça à própria democracia", escreve deputada em carta à ONU

São Paulo – A deputada federal Talíria Petrone (Psol-RJ) recorreu à Organização das Nações Unidas (ONU) por proteção internacional após a notificação de novas ameaças de morte a ela. De acordo com a parlamentar, a linha telefônica Disque Denúncia, da Polícia do Rio de Janeiro, noticiou à Câmara dos Deputados, em junho deste ano, que havia mais de cinco gravações de pessoas tramando sua morte. 

Talíria está de licença-maternidade e sob escolta da Polícia Legislativa. Em 2019, ela já era acompanhada pela força de segurança devido também a ameaças contra a sua vida. À época, o governo de Jair Bolsonaro e o então governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), chegaram a negar qualquer tipo de proteção, como denunciou à ONU. Talíria precisou recorrer à Justiça para ser atendida. A escolta foi interrompida por conta da pandemia do novo coronavírus e só foi retomada após as novas intimidações. 

Em carta submetida às relatoras de direitos humanos da ONU, em 22 de setembro, Talíria descreve haver um “aumento da violência estatal no Brasil”, com as ameaças dirigidas a ela sendo “parte desse ambiente violento”. Em declarações ao correspondente internacional do UOL Jamil Chade, a parlamentar confirma ser vítima da violência política desde seu primeiro mandato como vereadora em Niterói, em 2016. 

Àquela altura, ela descreve, “não percebia como este tipo de intimidação poderia ser grave. Entretanto, após o assassinato de minha companheira e amiga Marielle Franco, eleita no mesmo ano, percebi o real perigo”. À ONU, Talíria acrescenta que “não tem nenhuma informação sobre as investigações em andamento sobre quem está fazendo essas ameaças e por quê”. 

Violência política

Devido à falta de transparência e proteção, a deputada pede às relatoras que pressionem o Estado brasileiro a condenar as ameaças contra a sua vida. Assim como informar sobre as investigações em andamento. O objetivo é forçar as autoridades a apresentar um plano de proteção às mulheres, especialmente as mulheres negras, que sofram a violência política. Na carta, a parlamentar também solicita à ONU que exija respostas sobre quem ordenou a morte da vereadora Marielle Franco

Talíria é hoje uma das 13 deputadas federais negras na Câmara, que tem 513 parlamentares. De acordo com o correspondente internacional, ela destaca na carta que a violência política revela a “fragilidade da democracia brasileira”. “Como deputada eleita, defensora dos direitos humanos e uma mulher negra que se identifica com as lutas contra o racismo, a misoginia e outras formas de intolerância, percebo as ameaças dirigidas a mim como uma ameaça à própria democracia.”

Se acatada a denúncia, a queixa se transformará numa cobrança formal. E o governo brasileiro será instado a agir e garantir uma proteção maior à parlamentar.


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