Politização indevida

Judiciário recebeu ‘carta branca’ para derrubar governadores, alerta advogado

Jorge Rubem Folena, do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), diz que governador do Rio, Wilson Witzel, somente deveria ter sido afastado com autorização do Legislativo

Tomaz Silva/Agência Brasil
Tomaz Silva/Agência Brasil
Autoridade do Poder Judiciário não emana diretamente do voto popular, destaca especialista

São Paulo – Advogado, doutor em ciência política, e integrante do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Jorge Rubem Folena, criticou a decisão do Superior Tribunal de Justiça que confirmou, nesta quarta-feira (2) o afastamento do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, por 180 dias. Segundo ele, para não ferir a soberania popular, esse afastamento só deveria ocorrer após autorização do Poder Legislativo.

É o que diz a Constituição Federal em casos envolvendo o presidente da República. Para ser processado criminalmente, assim como ocorre no processo de impeachment, seria necessária a autorização de dois terços dos deputados e senadores. Mas o Supremo Tribunal Federal (STF) alterou essa jurisprudência para os governadores.

O resultado, segundo Folena, é o reforço da autoridade do Poder Judiciário. Dentre os três poderes, é o único que não é derivado diretamente da escolha da população, por meio das eleições. A consequência é a politização dos Tribunais, que deveriam se ater em aplicar a lei.

“Não podemos entrar nesse vale-tudo. A Constituição tem sido rasgada. Quando juízes não aplicam a lei e começam a estabelecer regras e normas, a partir das suas cabeças, eles não estão obedecendo a soberania popular”, afirmou, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (3).

A nova jurisprudência foi adotada pelo STF em 2017, permitindo que o então governador de Minas Gerais Fernando Pimentel (PT) fosse processado sem a autorização da Assembleia Legislativa do estado. Recentemente, Pimentel foi absolvido, mas o caso foi utilizado politicamente na campanha eleitoral.

Perseguição

Agora, apesar dos indícios de corrupção envolvendo Witzel, Folena atribui o afastamento às disputas com o presidente Jair Bolsonaro, seu ex-aliado. Após a troca do comando na Polícia Federal (PF), que culminou na saída do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, diversas investigações foram abertas contra governadores adversários do presidente.

Os efeitos dessa politização do Judiciário já puderam ser sentidos, e podem piorar. Ele citou, por exemplo, quando o STF deliberou sobre o rito do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Naquele momento, a Corte autorizou a abertura do processo, mesmo não havendo provas do cometimento do crime de responsabilidade.

Assista à entrevista:

Redação: Tiago Pereira. Edição: Glauco Faria


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