Mídia

Lalo Leal: entrevista de ministro da Justiça na Globonews foi constrangedora

Perguntado sobre dossiê secreto da sua pasta para perseguir servidores públicos e intelectuais, André Mendonça disse não poder confirmar nem negar existência de documento

Fabio Rodrigues Pozzebom / Abr
Fabio Rodrigues Pozzebom / Abr
Ministro enxergou "pacificação" no perdão de Bolsonaro a Daniel Silveira

São Paulo – Foi constrangedora a presença do ministro da Justiça, André Mendonça, na Globonews domingo à noite. Perguntado sobre o dossiê secreto elaborado na sua pasta para perseguir servidores públicos e intelectuais, ele disse não poder nem confirmar, nem negar a sua existência. Essa é a avaliação do professor e jornalista Laurindo Lalo Leal Filho, em sua coluna no canal do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. 

Lalo diz que jornalistas estão acostumados a receber respostas enroladas de autoridades. “isso é comum quando querem fugir da pergunta. Muitos dominam bem a arte de enganar o público, conquistando até mesmo simpatia e votos.” 

“Outros são toscos, como o atual presidente da República e suas frases truncadas, muitas vezes sem nenhum sentido. Mas esse ministro, do que vi até agora, é insuperável. Depois de dizer que não podia negar ou confirmar a existência do dossiê, prosseguia falando de temas que não tinham nada a ver com a pergunta”, afirma ainda o professor Lalo.

Na entrevista, o ministro dividia a tela da TV com três jornalistas. “Era impagável acompanhar as expressões de desprezo e enfado dos jornalistas, enquanto o ministro divagava ou falava qualquer outra coisa que não tinha nada a ver com a pergunta”, afirma Lalo. 

Como em uma ditadura

O professor destaca que mais grave ainda é que esses geralmente são os jornalistas dóceis com os poderosos. “Mas diante das respostas do ministro, não conseguiam disfarçar o incômodo. O que ele procurava esconder com as respostas enviesadas é muito grave ponto, é um dos passos clássicos rumo às ditaduras.”

Lalo comenta que esse tipo de ocorrência se dá quando opositores ou simples críticos de um governo passam a ser identificados, fichados e vigiados. É o caso desse dossiê, revelado pelo jornalista Rubens Valente, com 579 nomes de servidores públicos, além de quatro intelectuais identificados no documento como formadores de opinião.

São eles: Paulo Sérgio Pinheiro, ex-secretário de Direitos Humanos do governo Fernando Henrique e relator especial da ONU para a Síria; o antropólogo Luiz Eduardo Soares, secretário nacional de Segurança Pública no primeiro governo Lula; o secretário de cidadania do Pará, Ricardo Balestreri; e o jovem acadêmico da Universidade Federal da Bahia Alex Agra Ramos. 

‘Triste memória’

O dossiê foi produzido pela Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça, órgão que faz lembrar o Serviço Nacional de Informação (SNI), da ditadura civil-militar, “de muito triste memória”, como comenta Lalo. O título do documento atual é: Ações de Grupos Antifa e Policiais Antifascismo

“Os autores são tão primários, que ao tratar antifascistas como inimigos assumem publicamente a defesa do fascismo. Eu tive a oportunidade de conhecer integrantes dos policiais antifascistas e pude constatar a coragem e a importância deles na atual conjuntura. Não é fácil defender a democracia no meio policial. O ambiente é amplamente contaminado por apoiadores do atual governo, as ameaças que sofrem são constantes e o dossiê do ministério da justiça é a mais recente delas”, afirma Lalo.

Assista ao vídeo:


Leia também


Últimas notícias