Retorno à normalidade

Bolsonaro não estava moderado, mas acuado: ‘Queiroz é a ponta do iceberg’

Bolsonaro retomou comportamento “agressivo, violento e antidemocrático”, após ser perguntado sobre depósitos de Queiroz na conta da primeira-dama, segundo Cláudio Couto (FGV-SP)

Isac Nobrega/PR
Isac Nobrega/PR
Bolsonaro ameaçou encher repórter de "porrada" após pergunta sobre Queiroz

São Paulo – As ameaças a um jornalista neste domingo (23), ao ser perguntado sobre os depósitos do ex-policial militar e ex-assessor Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro encerram um período de quase dois meses de certa “moderação” do presidente Jair Bolsonaro. Esse postura garantiu, inclusive, aumento na sua popularidade, como verificado nas últimas semanas.

Contudo, segundo o cientista político Claudio Couto, professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), “Bolsonaro jamais será moderado”. Era uma tentativa de evitar que a prisão de Queiroz e os avanços nas investigações do escândalo das “rachadinhas” lhe atingisse diretamente.

Em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (24), Couto afirma que Bolsonaro estava apenas “acuado”. “Nunca houve um Bolsonaro ‘paz e amor’. Ele estava recolhido, inclusive, por conta da história de Fabrício Queiroz”, afirmou.

Laranjas rondam o planalto

Até então, o esforço do Palácio do Planalto era tentar restringir o escândalo ao senador Flávio Bolsonaro. Ele é acusado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) de ser o chefe de uma “organização criminosa” que desviava para suas contas pessoais os salários de assessores nomeados no seu gabinete, quando era deputado estadual. Da mesma forma, Queiroz é apontado como “operador” do esquema, conhecido como “rachadinha”.

Contudo, desde dezembro de 2018, o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) já havia identificado um depósito de R$ 24 mil de Queiroz na conta da primeira-dama. Na época, o então presidente eleito também atacou verbalmente um jornalista, e alegou que o dinheiro se tratava do pagamento de parte de um empréstimo feito por ele ao ex-assessor. Foi, então, que Bolsonaro afirmou que ele e Queiroz são “amigos”, desde 1984.

Iceberg

Para Couto, Queiroz é apenas “a ponta do iceberg”. Os laços dos Bolsonaro com o ex-PM revelariam também as relações com as milícias do Rio de Janeiro. Ele cita a proximidade de Queiroz com o ex-capitão do Bope, Adriano Magalhães da Nóbrega. Acusado de chefiar o Escritório do Crime, grupo miliciano que atua na zona oeste do Rio de Janeiro, ele foi morto, em fevereiro, durante uma operação policial no interior da Bahia, onde estava escondido.

“Adriano era amigo de Fabrício Queiroz. Ele foi, inclusive, homenageado por Flávio Bolsonaro, segundo o próprio, por iniciativa de Queiroz. A esposa e a mãe do miliciano estiveram empregadas nos gabinetes de Flávio e Jair Bolsonaro, também por iniciativa de Queiroz”, afirmou o cientista político.

Assista à entrevista:

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima